JUNTA DA MURCINETE

Meu carro começou apresentar um barulho na roda dianteira. Tec, tec, tec. Fui ao mecânico, um senhor baixinho com o macacão aberto até o umbigo, barba por fazer, cigarro no canto da boca. Sujo de graxa da cabeça aos pés. A tradicional sandália havaiana com a sola comida de forma desigual. Na unha do dedão uma micose que já o acompanhava há uns três anos.

Perguntou-me de forma direta:

- Qual é o pobrema com o bruto dotor?

Respondi que ouvia constantemente um barulho nas rodas dianteiras, no momento em que fazia curvas nas subidas. Imediatamente, com um olhar de profunda firmeza, respondeu:

- Isso é simpres, nóis troca em duas hora. É a JUNTA DA MURCINETE. Pensei com meus botões: Lá vem esse mecânico querendo me enrolar com aquelas peças inexistentes como eixo do cocão, tampa do eixo de borracha, rebimbela da parafuzeta e pistoleta da grampôla.

Deixei o carro que foi consertado e deixou de apresentar o problema.

Muito tempo depois fui a outro mecânico com o carro apresentando o mesmo problema só então descobri o real defeito. Quando perguntei ao japonês de uma dessas oficinas especializadas o que era aquilo ele me respondeu com aquela impassividade nipônica:

-É preciso trocar a JUNTA HOMOCINÉTICA.