Dublê de Jesus

O Universo se moderniza, até pedras aceitam chips. O homem vai a lua e finca a bandeira, vai a Marte e troca idéias com Marcianos, descobre as faces gigantescas e salta de pára-quedas sobre Júpiter. Pega carona na calda do cometa e mergulha no mar, chega até as profundezas abissais e descobre que os bichos daquela região não possuem olhos. Em nome da evolução das suas criaturas Deus começa a dar sinais de que no Paraíso e adjacências também é preciso acolher a modernidade. Os anjos que reclamavam dos esforços que faziam para tocar as Trombetas hoje se alegram com a chegada da eletricidade, caixas acústicas e grandes corais com microfones importados. Caronte o barqueiro da morte não está mais ranzinza como outrora, agora atravessa seus clientes em um barco a motor com GPS, a bordo tem musica, bebidas e cigarros. Mas voltemos ao Paraíso ou Céu como queiram chamar, vai dar na mesma. Houve diversas mudanças , até a inacreditável chegada do celular, porém há uma semana o Grande Conselho se reuniu para decidir sobre a volta de Cristo a terra, mas não foi fácil convencer o “Homem da Cruz”.

— Jesus meu filho, por favor, não dificulte as coisas! Está escrito que você voltará isso tem que ser cumprido! – Falou Deus do seu trono no centro do circulo.

O circulo tinha Jesus e São Pedro nas primeiras cadeiras, depois Nossa Senhora, Maria Magdalena, A Virgem de Fátima, João Batista, Dona Conceição, Padim Ciço, Geraldinho, São Lucas, Santa Rafaela, São José entre outros, lá na ultima cadeira fechando o circulo estava “Rapa-Cuia” o ladrão bom que fora crucificado com Jesus.

— Meu pai eu já disse, afasta de mim a porra do cálice! Cada prego daquele era mais de vinte centímetros, o espinho rasgava a testa feito o punhal de Lampião, as chicotadas até hoje eu tenho pesadelos com os estalos no meu lombo! Fora a sede e humilhação no meio daquela rua cheia de curiosos do Capeta! – Desabafou Jesus. Passando o olho pelos Conselheiros.

— Meu Deus eu gostaria de fazer uma pequena interferência! – Levantou a mão o Padre Cícero.

— Pois não Ciço!- Disse Deus autorizando a fala.

— Meu Deus é que eu queria pedir ao Senhor Jesus Cristo que não citasse as armas do meu afilhado Virgulino, ele está pagando pena lá embaixo e qualquer coisa não bem dita pode ser mais tempo para ele nos caldeirões!

— Pois não. Ele já entendeu. – Ponderou Deus olhando para seu filho. — Jesus, Jesus! Eu escrevi tudo que vai acontecer, desde o principio em que meu espírito vagava na imensidão escura do nada, até quando os anjos tocarem a trombeta do apocalipse nada pode ser mudado! Infelizmente você precisa ir, Desta vez vou te arrumar um dublê!

— Não vou!

— Você vai!

— Não vou, já que vai ter dublê, manda Pedro ou João!

— Eu não posso sou mais velho que você Jesus! – Argumentou Pedro.

— Então que vá João!

— Eu não posso tenho que estar aqui dia vinte e quatro de Junho é o dia do meu festejo, tem levantamento da minha bandeira! – Disse João.

— Pai ó pai! Não faça isso com seu filho! Afasta de mim este cálice! – Exclamou Jesus com lágrimas nos olhos.

— Lembre-se da minha mensagem Jesus, “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

— Mas eu não fui consultado! Eu não queria ser dado ao mundo para tomar porrada nas costelas e catiripapos nas orelhas! Não vou, não vou e não vou! Se tentar me obrigar eu fujo com Magdalena lá para as terras de baixo!

— Não diga isso nem por brincadeira ouviu Jesus! – Levantou-se Deus. — Da próxima vez lhe tiro o titulo de Reis dos Reis!

— Grande titulo! Aquilo foi uma zombaria que fizeram comigo! O senhor sabe muito bem disso! Ja sei manda Divino! Já que ele é da nossa Trindade, pode se passar por mim!

O silêncio foi geral. Até uma pequena mosca que voava próxima a tunica de São José congelou-se no ar. Olhares foram se confrontando até virarem todos para o Divino que estava em forma de Pombo dentro de um oratório. Deus não sabia o que fazer, Jesus parecia decidido a passar um tempo no andar de baixo ou quem sabe até aceitar o cargo de confiança prometido a ele se ainda da sua volta persistisse. O pombo estava nervoso, cada um que silenciava de olho nele parecia dizer que achava justo o pedido de Jesus, uma rajada de excrementos saiu das suas entranhas involuntariamente sobre algumas cabeças. Diante daquela cagada Deus preferiu suspender temporariamente. Enquanto isso o homem aterra o mar e constrói uma ilha, dinamita a montanha para extrair ouro, derruba as arvores para fabricar móveis, mas quando chega a tempestade culpa a natureza por ter matado seu parente. Jesus fechou o computador e foi dar uma volta nas nuvens.