CHIMARRÃO-TERAPIA

Entre uma sorvida e outra, o amargo da erva vai realçando a docilidade da vida. É nesse silêncio ruidoso que revisamos o passado e planejamos o futuro. A mudez das palavras fala mais alto que as marolas dos pensamentos. Dois seres aparentemente absortos numa rodada de chimarrão fala muito de suas vidas, onde as ideias são trocadas pelos sutis olhares.

É numa rodada de chimarrão onde as diferenças positivam-se pela álgebra metafórica, onde as arestas são aparadas pelo ajeitar da bomba na erva já quase gasta dentro da cuia.

Quando a chaleira chia, num movimento automático a puxamos para a beirada do fogão a lenha.

Os sabiás se achegam por estranhar tanta calmaria, mas logo vão embora para não atrapalhar tal conferência. O sabiá sabe.

Ali bem perto fito a araucária tentando forçar a força do meu pensamento para que deixe cair de sua copa um punhado de pinhão pra que eu possa assá-lo na chapa, como sempre fiz. Minha companheira acompanha o movimento do meu olhar e diz pra eu ter calma, pois logo cairá algum pra nós.

É no sorver do chimarrão que sorvo um pouco de esperança na vida, fico em paz comigo, com a natureza e tudo começa a clarear.

É uma rodada de pouca prosa e bastante sabedoria, onde fluem sempre as boas ideias.

Não há debate e nem lamento, pois o chimarrão não permite, é ele que nos doma.

Ninguém se zanga quando está chimarreando, e, mais, numa rodada de chimarrão todos são amigos. É um momento mágico.

É chimarreando que se serena as almas, se acalmam os aflitos e reforçam-se os laços de irmandade.

Para um bom gaúcho, uma bomba, uma cuia e uma erva da buena, não tem tesouro maior.

Sérgio Clos