A HORA
No presente já não mais neste instante, olho a hora e o relógio cobra o dia que se finda.
O lampejo dos últimos raios solares reflete no vidro embaçado da janela, pequenos ramos sem folhas. A voz do vento por entre as frestas sussurra que a noite vai ser fria. Os arbustos irregulares em tamanho e em tons de cor balançam como que em um bailado eterno.
As nuvens densas carregam ainda mais a tonalidade cinza desta cidade. Na Avenida Paulista as pessoas fogem da grande encenação de suas vidas e procuram nos cinemas a intuição de que será possível aguentar o amanhã de uma tradicional segunda feira. O sorriso amarelo do jornaleiro da esquina traduz bem sua pouca intimidade com a sua fria freguesia.
Puxa é hora! Tenho de ir-me....
(20/09/1987)