NÃO ADIANTA RECLAMAR DA VIDA

Aguardando na sala de espera de uma clínica médica, me deparo como um senhor reclamando sozinho: " É Jesus, não é mole não..."

Ele puxa assunto, apontando para o joelho esquerdo: "rapaz , como essa dor foi parar aqui? Puxa, do nada apareceu".

Juarez* era um senhor de 57 anos, com sobrepeso e visivelmente sedentário. Em poucos minutos, soube de muitos detalhes de sua vida. Enquanto ele falava comigo, uma válvula de pressão parece ter sido acionada.

Juarez* reclamava do INSS que estava dificultando a aposentadoria dele. Sim, de fato, a reforma da Previdência parece ter prejudicando a todos, não somente à ele. Reclamou pelo fato de trabalhar em pé; elegendo esse fato como o responsável pela dor no joelho. Reclamou por não ter sido militar, pois todos os seus amigos eram ou do Exército ou da Marinha; alguns já estavam aposentados. Se gabou de ganhar na faixa de 5 mil reais, mas durou pouco sua tentativa de auto-afirmação. Em seguida, relata a tristeza por ter tido o casamento desfeito e estar "perdendo", mensalmente, 1.500 reais por causa das pensão. Considerou que, atualmente, seria difícil de conseguir um emprego para ganhar mais do que ele ganhava, e confessa que a falta dos conhecimentos de informática e inglês atrapalharam sua carreira. Por fim, lamentou profundamente por não ter carro, uma vez que todos os seus colegas de função possuem um: " A pensão me suga" - ele dizia.

Bem, mesmo entendendo que muitas de suas queixas são legítimas, saber de boa parte de sua história, em menos de cinco minutos, me fez pensar sobre o fato de reclamar vir a se tornar uma espécie de vício. O relato do Juarez* me fez concluir que, como diz o ditado, " a boca fala do que está cheio o coração".

Não tive tempo de dizer para Juarez* o que eu pensava sobre as lamúrias do mesmo . Seu espírito agitado e ansioso não me permitiram.

* Juarez - nome fictício.

André Nasser