O PARADOXO DO CARNAVAL

Carnaval 2017 está aí, mas uma coisa que já se tornou uma verdade nua e crua, incontornável, um fato cuja constatação se impõe até aos mais obtusos, a profunda crise do carnaval baiano — crise que agora toma jeito de agonia violenta, suja, com espasmos brutais da violência e da péssima qualidade dos seus (artistas). É a guitarra perdendo espaço para sons grotescos sem qualidade, porém ricos em dissonância. Não há como confundir com vitalidade esses estertores do gigante drogado.

Para começo de conversa, o carnaval de Salvador já não é mais de Salvador. De acordo com as estatísticas, apenas 22% dos soteropolitanos participam dele.

Mas de modo desigual é claro, é preciso que se enxergue mais. Pois muitos participam da grande festa sem festejar, ou seja, trabalhando em condições mais que precárias: uns, na condição servil de “cordeiros”; outros a espremerem-se pelas ruas tomando porrada sem saber porque, outros coitados vendendo cerveja e petiscos miúdos, enfeites etc.; ou ainda catando latas dia e noite. A miséria dos “cordeiros” é explorada de forma obscena e a triste instituição do bloco de cordas se mantém ano após ano, com o beneplácito das nossas autoridades, decerto empenhadas em honrar as tradições escravistas da Bahia. Os amos do bloco até alegam que com isso oferecem uma oportunidade de ganho a pessoas necessitadas. É verdade que

elas o são: a espantosa pobreza de Salvador, fruto de desgoverno e insensibilidade social, recruta facilmente homens e mulheres para esse tipo de trabalho. É ela também que leva famílias inteiras a dormir na rua

durante a bela festa, sacrificando-se para obter um pequeno aumento de suas rendas com um inseguro comércio. Para isto fazem vigília, no tumulto carnavalesco; dormem pelas manhãs na promiscuidade e na sujeira, nas calçadas ou nos escassos gramados, entre bêbados e lixo. Ou em barraquinhas improvisadas, que tomam calçadas e bloqueiam a entrada de inúmeros prédios na Barra, por exemplo.

Não vamos negar que o carnaval baiano distribui renda. Ele o faz de diversas formas. Ladrões, narcotraficantes, prostitutas universitárias, prostitutas ralés e caçadores de viado também têm sua chance. Mas o grande

lucro fica com poucos.

Claro, há o turismo que enche os hotéis, moteis e pousadas baratas.

Inclusive nessa época, tem muita gente que se manda deixando tudo para trás, alugam seus apartamentos por toda temporada desse pandemônio chamado carnaval; há os promotores, donos de blocos e de camarotes, as cervejarias que nem essa que bancou o carnaval 2016 daqui de Salvador sob protestos dos ambulantes obtusos que não entenderam a medida sábia do Prefeito ACM Neto.

Existem também os captadores vulgarmente conhecidos como propagandistas.

Os trabalhadores qualificados do carnaval têm seu ganho, muito suado... quando não levam calote, como acontece frequentemente com músicos contratados pelo município, cujas queixas ecoam por meses na imprensa. Também os "cordeiros” são com frequência caloteados.

Ao cabo, a festa repete o esquema comum de nossa economia: a alta,

absurda, imoral concentração de renda. O prejuízo sempre fica para a cidade. Como por exemplo, avenidas esburacadas, jardins depredados e de quebra, a sujeira total da cidade.

Mas virando o lado da moeda, quero falar do lado artístico que vem mandando no carnaval de Salvador. Um fracasso total quero dizer que a qualidade musical e talento, morreu por aqui.

Porque meus amigos, existe um fato e só não vê quem não quer, cuja constatação se impõe até aos mais obtusos, a profunda crise de artistas bons do carnaval baiano — crise que agora toma jeito de agonia violenta, suja, com espasmos brutais. Não há como confundir com vitalidade esses estertores do gigante drogado. O buraco é mais embaixo e não dá para esconder.

Por isso, o axé music chegou aos 30 anos encarando uma crise artística e econômica. Ainda que negada por seus principais protagonistas, a situação se manifesta no esvaziamento bons artistas dos trios, as multidões dopadas pelo ritmo pagode de péssimo gosto, caras que se auto-intitulam cantores incentivando a violência como o abominável "Igor Kannário", outros incitam a libertinagem e como Marcio Vito, outros a degradação da mulher e a proliferação do palavrâo como o tal do "Robsão" e seus imitadores, e por fim os insuportáveis cantoreszinhos com vos afeminada cantando dizem lá eles que é sofrência.

Palavra tôsca e sem sentido criada por eles imaginem só o que se passa na cabeça de um cara desse.

Com ou sem crise, tirando ainda o carnaval deste ano de 2016 que já passou, o fato é que o mesmo carnaval de Salvador do ano passado de 2015 registrou uma queda de 15% nas vendas dos abadás em relação ao mesmo período do ano anterior, o que um dos fundadores da Central do Carnaval da cidade afirmou no fim de 2014 ser reflexo da Copa e das eleições de 2014. Além disso, há uma invasão de trios elétricos liderados por não-baianos, especificamente de artistas do novo sertanejo enchendo os sacos, o gênero musical mais bem-sucedido hoje no Brasil porque qualquer coisa que eles lançam é sucesso em vendas até mesmo se eles gravarem um arroto, vendem na hora.

Então meus amigos, compreeendo o porque dos grandes astros até evitarem se apresentar em cima dos trios.

A porcalhada é tão grande, o público tão tacanho que é capaz de vaiar estrelas de primeira grandeza.

Mas aplaude um cara como o Igor Kannario com uma vida que só a misericórdia de Deus. Quem sou eu para julga-lo?

Porisso, estou mais que cosnciente de tal realidade, começarei por manifestar o meu reiterado repúdio pela crescente e injusta exclusão da participação popular na festa,

razão da permissividade e de alguns interesses escusos dos representantes dos poderes onstituídos, somados, obviamente, à ganância e ao injustificável poder de um grupo de empresários e, ainda, de parte considerável da chamada grande mídia. Enfim, “autoridades”, “agentes”, “entendidos” e “estrelas” que definem, mediante atos muito pouco transparentes, os negócios e programações dessa faustosa e sempre tão

ansiada efeméride de momo.

Fazendo breve reflexão histórica no sentido de alcançar a presente realidade do carnaval, sei que todos nós percebemos a falência dos carnavais

dos prestigiosos clubes da cidade, nos quais se deliciava, sem tantos controles institucionais de seus nem sempre aceitáveis comportamentos, a

dita elite exageradamente maquiada, mascarada ou escancaradamente racista, afinal pouco afeita ao corpo a corpo com os pobres da cidade. Uma

das saídas encontradas foi se privatizar as ruas, locupletando-se abusivamente dos melhores espaços, o que permitiu – e cada vez mais

acintosamente se permite – o “apartheid” social, possibilitando-se aos membros daquela elite o refúgio em relação aos “indesejados”. Têm sido os

agitados e tão garbosamente ornamentados camarotes os sustentáculos primaciais da crescente e perversa exclusão sócio-racial, pelos quais

desfila a dita “gente bonita” e municiada “de posses” durante os dias da folia. Caro refúgio!

Fácil testemunhar glamorosos artistas ou mesmo outros que carecem ainda de maior visibilidade (e alguns, inclusive, de passado respeitável na

música, no teatro e na TV brasileiros, já se renderam aos loteamentos momescos!), assim como influentes políticos, “brilhantes” personalidades de

momento e, claro, grandes empresários (muitos destes os próprios representantes dos grandes patrocinadores do grandioso entrudo) a gravitar,

esfuziantes, pelos luxuosos reservados dos circuitos, sem quaisquer incômodos ou mínimos zelos no que respeita a exibição de seus

comportamentos. Eles são mediocremente bajulados e cuidadosamente protegidos dos possíveis perigos que a festa pode acarretar. Desses

espaços excludentes, geralmente armados nos melhores locais para audiência, todos eles assistem, além das atrações, insensivelmente ao povo ser

espremido, maltratado, injusta e vergonhosamente excluído daquela que é cantada, em prosas e versos, como a maior festa popular do mundo.

Reflito: que popular “caras pálidas”?

Onde estão os negros, mulatos e a maioria dos pobres da cidade? Digo melhor: onde está verdadeiramente o povo?

As ruas principais também foram privatizadas pelas famigeradas cordas impostas pelos grandes e ricos blocos de trio. Aliás, “Mano” Caetano: seu

belo verso “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, já morreu! Há muito ser vivente que às vezes sequer consegue assistir ao desfile (cadê

os espaços?), quanto mais participar ativamente como folião! Pular o carnaval – como sempre se disse aqui em Salvador – com segurança e nos

melhores horários significa ter grana e,

ainda que mascaradamente, possuir a tez mais clara! O povão pode até acompanhar, porém ao lado ou bem mais atrás da grande nave de som,

pipocando em meio aos sacolejos dos cassetetes policiais, passível a toda sorte de violência e certamente espremido entre os cordeiros mais

truculentos que não recebem, como deveriam, a adequada orientação dos seus não menos truculentos “superiores”.

Falando-se de trios, necessário um parêntese para denunciar os já velhos privilégios de um pequeno grupo de empresários e suas atrações

“estelares”. Estes “profissionais” ditadores da festa sempre estão no lugar e hora mais interessantes nos circuitos do carnaval. Isto é sagazmente

programado e inaceitavelmente atendido pelas “autoridades organizadoras”, sabe-se lá à custa de quais favores e empreitadas políticas e

financeiras (?). Falseados são os ditos critérios de antiguidade

para a ordem de partida das entidades no ansiado cortejo. E muitas as artimanhas para se obter a perenidade em relação aos melhores (leia-se os

primeiros!) lugares da fila. Compras mal explicadas de blocos já se deram e resultaram em graves acusações e vergonhosas disputas, inclusive

tornadas públicas, entre algumas das “estrelas do grande time”. Cidade de maior contingente de população negra fora do continente africano, ou

como se diz histórica e culturalmente mestiça, portanto de fecunda e tão forte presença de afro-descendentes, aparta, contraditoriamente, a beleza

e a riqueza de suas mais caras entidades carnavalescas – blocos afros, afoxés, cordões de samba e pequenos blocos de percussão e sopro – para o “vazio” das madrugadas, quando, em especial, os ricos holofotes da grande mídia não estão disponíveis e quando o público audiente é menor.

Por fim, vou me referir a outra questão delicada e passível de ataques frenéticos e oportunistas: a qualidade da música nos últimos carnavais de

Salvador. Contudo, serei direto: é péssima a qualidade disso que se convencionou chamar de “pagode baiano” e de seus já insuportáveis congêneres dissonantes e pornofônicos. Tornaram-se escassos os frevos, as marchinhas, os sambas, os afoxés, até as boas composições do intitulado axé-music, as que traziam em suas letras alguma poesia ou sentido. A pobreza e a falta de compostura das ditas novas composições feriram, sem zelos, a qualidade

da música (letra e melodia) e foram, cada vez mais, tomando conta do cenário musical carnavalesco e, mesmo, da Bahia. Uma vez mais, para o desconhecimento de muitos ou omissão de tantos outros, os interesses de empresários medíocres em inditoso conluio com seus colegas empresários da mídia inescrupulosa e nojenta, passaram a ditar o que se toca e se houve em terras soteropolitanas, expandindo-se estado a fora, seja antes, durante ou após as “folias momescas”. Vivemos o império do “sobe e desce mainha”, do “vou meter”, do “rala a xeca no chão”, do “dá a patinha” , "cara no sol" e outras fazem alusão ao uso de drogas de maneira explícita e da violência também como é o caso do "Igor Kannário", um cara que é um péssimo exemplo para qualquer idade, um cara que traz a vivência da sua louca vida real para cima de um trio e quase toda Salvador o aplaude, e inclusive, eu só vi uns dois apresentadores fazendo pequenas críticas sôbre o comportamento dese elemento.

O resto, parece que come nas mãos dele ou tem rabo preso.

por aí vamos enlouquecendo. Também num país em que Big-Broder é atração principal de sua mais poderosa rede televisiva e que Datenas, Bocões sensacionalestas da vida.

e Cia são ícones da comunicação, o que todos podemos esperar?

É como se na Bahia apenas se possa produzir – ou como se todos apenas gostassem (?) – a polêmica e avassaladora tríade do “axé-pagodearrocha”!

O ano todo, em todos os lugares e em todo o tipo de festividade é o que agora se ouve. Até nas ruas cada vez mais grupos de jovens abrem seus tampões ensurdecedores mais caros do que o próprio carro em exposição, vomitando músicas caricatas e sem noção. Proliferaram-se,

nessa trajetória de futilidades, as micaretas. Essa coisa medonha que absurdamente de classifica de “música baiana".

Tem uma certa emissora que eu a classifico com classe "Z" uma tal radio Piatão, que coloca tais sucessos arrasadores de ouvidos e ainda diz que o sucesso que se ouve. "Fala sério".

Mas, encerrando, quero dizer uma coisinha: É real essa desastrosa mudança do carnaval da Bahia ao longo dos úlimos 20 anos. Transformaram o carnaval numa fonte de enriquecimento de poucos que se acham os donos da festa e de seus suntuosos camarotes e marginalizaram o povo da cidade que aos poucos foi perdendo o direito de brincar livremente, pois para isto precisa ter dinheiro para pagar por um pano de chão, Ops; quero dizer "abadá" de um bloco qualquer ou se sujeitar à violência gerada pela redução dos espaços públicos nos circuitos da festa que foram invadidos pelos blocos e suas cordas espremedoras e pelos camarotes. Hoje o que vale é a ganância empresarial do segmento econômico do carnaval, que virou uma grande indústria de violência,lixo, prostituição, doenças cervejarias e pornofonias.

É só !!

JOSÉ JOAQUIM SANTOS SILVA

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José Joaquim Santos Silva
Enviado por José Joaquim Santos Silva em 20/02/2017
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