ENSIMESMADO

Vejam só o quanto o nosso idioma é difícil! A salvação da lavoura é o corretor automático. Antigamente, pois sou desse tempo, na máquina Lettera 22, eu errava, mesmo “catando milho”, apagava depois com aquela borracha de duas cores e acabava furando o papel. Depois inventaram o errorex , eu pintava de branco o erro, batia por cima e ficava uma cacaca. Tempos difíceis, mas nada que impedisse o Veríssimo de escrever o Tempo e o Vento e o Drummond de datilografar seus lindos poemas. No meu caso, eu erro constantemente, na concordância então! Recentemente, ouvi o Temer dizer: Eu fá-lo-ei. Fiquei com inveja do ancião Presidente. Eta cabra bom no português. Depois que descobri o que ele fez, voltei orgulhoso para ignorância linguística. Quero falar de outra coisa bem diferente. Do ensimesmado. Aquele sujeito que fica pensativo, introspectivo e não triste. Tristeza é outra coisa. A gente vê a tristeza nos olhos da pessoa triste, por mais que ela tente disfarçar. Enxergamos seu perrengue vivencial, pois olhamos com os olhos da alma. A tristeza alheia jamais passará despercebida por nós. A alegria, a felicidade e a serenidade também são saltitantes das retinas. Não é a toa que dizemos serem os olhos o espelho da alma. Se realmente fossemos perfeitos, como dizem os budistas e assemelhados, nossas agruras não escapavam de nossa alma para o mundo exterior, pois não existiriam. Entretanto, o Budismo projeta a perfeição para o futuro e o trás para o presente, sendo assim, eu aceito a tese da perfeição, pois a mente cria tudo, inclusive as nossas vicissitudes. O Universo não está nem aí se estamos tristes. Não faz diferença nenhuma para ele, pois ele provê um mega mercado para nosso deleite, basta espichar o braço e apanhar o que quisermos ao nosso bel prazer. Foi sempre assim desde que o homem ousou aparecer no planeta Terra. Cada um tem os seus problemas, todas as famílias têm problemas, todos os casamentos o tem, as relações de trabalho não são sempre harmônicas. Resumindo, cá para nós, a perfeição ainda não é para este mundo. Dito isso, é certo que, com a velhice batendo na nossa porta, já passamos por todos os estágios emocionais e fomos ao longo do tempo nos abastecendo das situações que nós mesmos criamos. Se nós chegamos até aqui são e salvos, é por que o que passamos foi suportável. Suportamos todas as decepções, alegrias, felicidades, tristezas e todo o tipo de desventura emocional. Aprendemos? É imperioso que tenhamos aprendido! Do contrário: VIVER SEM APRENDER É SE ARREPENDER E NÃO VIVER. Tudo passa. O que não será importante amanhã, não pode ter tanta importância hoje. As coisas relevantes o são por um longo período. Não raramente, o ego, que está sempre junto com a gente, manifesta-se. Anulá-lo? Impossível! Todavia, urge que o controlemos. Eu mesmo, eventualmente sou traído por ele. Na verdade ele é a nossa reserva técnica para combater a baixa autoestima. Se fizermos uma introspecção de que somos realmente perfeitos, não temos egos e nada tememos, deveríamos voltar ao tempo das cavernas ensimesmados na artimanha para pegar o próximo antílope e abastecer de carne a família. Eu disse família? Mas a família não foi invenção do capitalismo? Então para dar de comer aos nossos filhos, pois naquele tempo os filhos eram nossos. Hoje os “filósofos esquerdistas filhos de chocadeira” dizem aos quatro ventos que os filhos são do Estado e que a família foi inventada pelo capitalismo opressor. Voltando ao Temer, ensimesmado fico eu a pensar que deveríamos passar um errorex neles todos. E, se eu errei no português, não tentem ajudar-me, pois sou incapaz de entender por completo a língua portuguesa. E, se escrevi bastante, perdoem-me, pois, como disse Jânio Quadros, EU FI-LO PORQUE QUI-LO!

Sérgio Clos