Atrás dele, à frente dele.
Eu ainda não posso crer que dirigi até a cidade, para vê-lo no bar, com outro.
Eu poderia voltar, mas desci e me acomodei à mesa.
Eu queria ser como um fantasma, por isso sentei bem à sua frente, apesar de ficar de costas – eu sabia que minhas curvas você conhecia bem ainda que em sombra -. Evidentemente que o rapaz que te acompanhava não me conhecia, isso facilitava meu plano de te deixar desconcertado.
Pedi um suco, alguns petiscos, troquei olhares com o garçom e já adiantei aquele desconto camarada para os amigos do bar – que não era bem meu conceito, mas, algumas encaradas no garçom sempre rendem.
Ouvi o teu acompanhante fica desconfortável e já deduzi o que era – ele tinha te percebido encarando outro. Somos tão previsíveis! Benefício de ser observador: alta capacidade de manipulação.
Eu não mais resisti e pedi um vinho, ainda que barato, para passar o tempo. O garoto seguiu para o banheiro e ele assobiou baixo para mim. Estiquei as costas no recosto como um aceno que eu tinha conhecido o assobio e o meu nome cochichado. Ainda assim, não virei.
_. Meu nome saindo da boca dele ainda me fazia esquentar a pele e ouriçar os pelos.
O rapaz volta à mesa e eu volto minha concentração aos sentidos de avaliação do vinho – que não era vinho e que também não precisava de avaliação olfativa ou óptica -. Mergulho meus lábios em uma longa sugada picotada e em pequenos pingos para dentro da boca, tateando o gosto.
O tempo passa.
O garoto se levanta e vai embora, sem beijos, sem abraços... apenas se levanta e segue.
Me levanto para ir ao banheiro e vejo na visão periférica que tu me olhas.
Pensei que ele viesse atrás de mim, mas não.
Quando volto, você está sentado na minha mesa, tomando o meu vinho, me olhando com ar de “te peguei”.
Sento na mesa dele, chamo o garçom e peço que me traga a conta e maquineta.
Insiro o cartão, digito a senha, “transação aprovada”, comprovante impresso e cinismo ainda tem limite de sobra.
Vou embora.
Sem mais.
Para nunca mais.
Continua...