BRIGITE

Brigite é a cachorra da Alice, uma grande amiga (a Alice, não a Brigite), Alice é a personificação de minha consciência. Alice é assunto de outrora, pois agora falarei da Brigite. Chamarei a Brigite pelo nome, pois é difícil chamar de cão um ser tão parecido com os homens, não fosse seu rabo nem se perceberia a diferença.

A Brigite foi presente de um namorado à Alice. O namorado passou, a Brigite ficou. A Brigite e a Alice possuem um elo forte uma com a outra, são como dois alicerces a sustentar uma só estrutura. Alice sofre, Brigite também, Alice ama, Brigite invade a cama, Alice sorri, Brigite abana o rabo, Alice sai pra namorar, Brigite fica em casa a derrubar, apreensiva, as lixeiras.

Ao que se a Brigite é virgem, nunca teve seu sexo deflorado, não provou da cachorrada de algum vira lata atrás de uma noitada. Brigite é inocente demais, os homens do lar (ou seriam cachorros) vivem a maltratá-la, mas ela vive a abanar seu rabo e a pedir colo para eles. Este fato reforça a idéia de Brigite ser mais humana que canina, ou será que os homens são mais caninos que humanos?!

Brigite está atravessando uma fase difícil em sua existência, ela anda saciando-se com dejetos impressos em papel higiênico. Brigite derruba as lixeiras da casa como sempre o fez, mas passou a dar especial atenção aos banheiros, onde além de derrubar o recipiente ela ingere os dejetos que lá estão. Alice passa horas a conversar com Brigite, mas os episódios são cada vez mais regulares.

Eu não sou médico veterinário, nem sou psicólogo ou, ainda, seguidor do Freud, mas acho que Brigite se recente de sexo, ou melhor, da falta dele. Brigite quer ser chamada de cachorra enquanto experimenta o gozo. É comum entre os cães conhecerem seus pares através do olfato, quem já não viu dois cães a cheirarem um ao outro lá atrás. Brigite já não precisa de um cão de raça, Brigite necessita de uma cachorrada.

Brigite está tornando-se uma antropóloga do cú alheio, Alice sofre sem saber o que há com a fiel amiga, eu assisto perplexo ao espetáculo nojento proporcionado por este ser humano que possui rabo. Espero que Alice conheça um homem que não seja cachorro e que Brigite seja descoberta por um cachorro que não seja homem. Assim a paz voltará a imperar. Aqui ainda resta uma dúvida; se a Brigite é quase um ser humano o que acontece com um verdadeiro virgem de idade avançada? Será que ele revira lixeiras atrás de dejetos? Na dúvida pensarei duas vezes antes de usar um banheiro alheio.

Thiago Denardin
Enviado por Thiago Denardin em 06/08/2007
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