QUE É A VIDA, SE NÃO UM PLÁGIO...

Que é a vida se não um plágio, às vezes um plágio fiel, outras uma imitação grosseira e cheia de falhas. Que é este mundo se não um plágio, plágio do ontem maquiado de amanhã, não fossem as crianças o mundo nem graça teria, pois seria repetitivo, ou seja, seria um plágio de nós mesmos amanhã, que nem aquela velha propaganda onde o sujeito chega e pergunta hei, quem é você? E o outro, que é um plágio responde; Eu? Eu sou você amanhã! Até onde lembro o plágio desta propaganda embebedou muitos plágios de homens país afora! Mas ao menos temos as crianças...

Meu irmão mais velho passou a vida a plagiar o Alexandre, sabe aquele Alexandre, o que era grande, que foi conquistador, quando seu personagem foi ao cinema meu irmão estava lá na primeira fila, primeira sessão, atento para suas anotações mentais que o fariam mais parecido ainda com seu plagiado, mas saiu decepcionado com o que viu. Entenda que meu irmão é um exemplo de vitória, homem honesto, chefe de família, trabalhador, bem sucedido, superou na base da luta as adversidades da vida, inspirado em um Alexandre que era um mito, daí quando viu um lado humano exacerbado na tela (afinal, no filme o Alexandre chorou em desespero e crises de identidade o tempo todo e o meu irmão nunca se permitiu chorar ou se quer fraquejar), se desgostou, afinal ele nunca pode ser humano, até hoje está revoltado com o diretor e com culpa por andar lendo histórias de Julio César.

O mundo é feito de homens de carne e osso e não de mitos, como nós mortais não assimilamos bem nossa condição, insistimos em plagiar os deuses. Na verdade plagiamos até nossa felicidade, não temos uma felicidade real, temos uma imitação daquilo que nos disseram que era felicidade; é que nem esse hábito triste de dizer que dinheiro não traz felicidade, isto é uma falsidade absurda que deve ter sido inventada ou por um ladrão que levou o dinheiro (e a felicidade de alguém), ou por alguém que não queria sair em busca da remuneração advinda da labuta, coisa de vagabundo, trocando em miúdos. Esse ensinamento está tão enraizado em nossa cultura que eu conheço gente que começa a melhorar sua situação financeira e se sente culpado por isso! Dá pra acreditar? Dá vontade de dizer pro sujeito se está sentindo-se culpado doa tua grana pra mim, ou pra não parecer tão egoísta, dá pra uma entidade de caridade, pra um hospital, pra um asilo...

Eu também plagio muitas pessoas e idéias dentro de mim, se hoje consigo traçar mal algumas linhas devo isso ao plágio que faço (me perdoem por não ser um bom copiador) de diversos outros seres que também devem ter plagiados textos de outros que o fizeram de igual forma antes deles. Só não sei plagiar felicidade, isto eu me orgulho em dizer (e sofro também), porque as velhas imitações de realidade não me pegam mais, quando vem uma dita nova política eu tenho a consciência que não passa de uma imitação barata da pior parte da administração romana de séculos atrás; quando tentam me vender uma droga nova que vai me trazer a felicidade, se não for Viagra não acredito. Aprendi com o tempo que nada é constante, porque é tudo uma imitação, uma remontagem; não é nada novo como tentam enganar alguns.

Mas sempre teremos as crianças, estas sim, são a esperança e; odeiam plágios. Você deve estar se perguntado o que tem as crianças de tão diferente não é mesmo?! É simples, você não engana uma criança, você acha que engana, mas não engana. Meu sobrinho tem nove anos e toda vez que sai da escola quer um doce da padaria em frente a escola, ou então pede uma pipoca do pipoqueiro que trabalha ali a anos, o caso é que se você disser a ele não meu querido, deixe pra comer em casa que eu faço pipoca pra você, ou então você diz pra ele que tem umas balas com você que não precisa comprar! No auge dos seus nove anos de idade ele te responde que não aceita imitação de pipoca, porque pipoca boa é a do pipoqueiro da escola, que doce bom é o que tem na padaria (mesmo que seja igual ao de casa), porque ele não quer imitação ele quer degustar a verdade dos prazeres novos, em casa é tudo igual! Salve a infância, salve!

Thiago Denardin
Enviado por Thiago Denardin em 06/08/2007
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