A difícil arte do autoperdão

"Sempre perdoe seus inimigos. Nada os irrita tanto!"

Brincadeiras à parte, não tenho inimigos, graças a Deus. Mas, é claro, existem pessoas que cruzaram meu caminho e não acrescentaram nada, além de causarem muitos desconfortos e algumas mágoas. E se tem uma coisa que detesto é ficar "de mal", sem dirigir a palavra ao outro. Isso me incomoda profundamente. Fico mal mesmo, a ponto de não conseguir levar minha vida direito. Parece que a mente trava e fico com o pensamento fixo naquela situação. Só sossego quando sento e chamo pra conversa (dou um tempo primeiro, a fim de que a raiva não interfira). Tudo devidamente esclarecido, minha alma fica em paz, pois sabe que fez o que devia ter feito, ainda que a situação não se reverta.

Não me acho a melhor das pessoas, óbvio, nem é minha intenção retomar aquele relacionamento/amizade. Não sou hipócrita. Certas coisas não têm volta. Mas também não quero ser desafeto de ninguém. Todos temos nossos defeitos e cada um tem seu jeito. Não tenho pretensão de mudar o outro (nem conseguiria... cada um é responsável pela própria mudança). Já é tão difícil melhorar a mim mesma. Acho que cada um, depois de um desentendimento, tem que fazer uma reflexão e ver até que ponto contribuiu para aquela situação. Não adianta nada jogar toda a culpa no outro. Eu faço o mea culpa e procuro não repetir os erros.

É fácil? Não, é muito difícil. Mas é preciso. Somente o autoconhecimento, isento de desculpas, pode nos ajudar a melhorar. Precisamos entender o que fizemos e porque o fizemos. É fundamental ser honestos com nossa própria consciência e assumir a parcela que nos cabe de responsabilidade pelo acontecido. Somente assim poderemos fazer diferente numa próxima ocasião. Ou, melhor ainda, evitar uma próxima ocasião.

A palavra "perdão" vem do grego e significa “abrir mão, deixar ir embora”. Nesse sentido, perdoar o outro não é fácil, mas é muito mais complicado perdoar a nós mesmos. Isso porque, para exercer o autoperdão, precisamos reconhecer a nossa falha. Autoperdão é isso: entender que agimos errado sim, mas agimos de acordo com o que somos. E não somos melhor, nem pior que ninguém. Somos únicos. Somos falíveis. Somos o que somos. Como todo mundo. Não adianta exigir de nós mesmos algo que ainda não estamos prontos para dar. Mas que podemos aprender, de agora em diante.

O problema é que somos tão vaidosos, tão egoístas, que é mais fácil jogar toda a culpa no outro. Dá menos trabalho. Por outro lado, quando conseguimos enxergar que contribuímos (às vezes fomos os únicos responsáveis) para aquela situação, quando, efetivamente, conseguimos ver a situação de forma isenta, vêm a culpa, o remorso. Como pudemos agir daquela maneira? Quando foi que nos tornamos tão insensíveis? Aí entra a parte prática: refletir, reconhecer, internalizar, aprender, deixar ir embora (perdoar).

Como diz um ditado jocoso, "falhei, tá falhado e não se falha mais nisso". É um trocadilho engraçadinho, mas é a pura verdade. Ficar remoendo a situação não vai resolvê-la. Pensamento é energia, vibração. Então, reflita, assuma sua parcela de culpa, converse, peça desculpas (se der, é claro), perdoe-se e ESQUEÇA. Agradeça ao Universo a oportunidade de aprendizado e esforce-se para não mais cometer esse erro. Não vá afundar-se em culpas e remorsos, que isso só vai complicar todo o enredo.

Perdoe o outro. Perdoe a si mesmo. E siga a vida, procurando não errar de novo o mesmo erro, pois, agora, você já se conhece melhor e pode fazer diferente. É assim que evoluímos moralmente.
Rosa Pinho
Enviado por Rosa Pinho em 03/04/2017
Reeditado em 03/04/2017
Código do texto: T5959888
Classificação de conteúdo: seguro