Poliglotas

Lendo um caderno especial lançado, pela Zero Hora, um caderno sobre língua estrangeira, algo assim, me deparei com uma palavra fantástica: Ryentgyenoelyektrokardiografichxeskogo. Ryentgyenoelyektro-kardiografichxeskogo: que palavra legal!, pensei eu, no exato momento em que li. Ryentgyenoelyektrokardiografichxeskogo é uma palavra russa, em que a tradução, para o bom e velho português, é radioelectrocardiográfico, que também não é tão simples de se pronunciar. Esses russos, não sei não.

Experimente você, num só lance, pronunciar rapidamente: radioelectrocardiográfico. Tarefa difícil, não? E então, o que me diria de Ryentgyenoelyektrokardiografichxeskogo? Você não pode negar que é, sem dúvida, uma palavra, senão legal, no mínimo curiosa. Eu acho, ao menos. Eu, pessoalmente, nunca teria inventado uma melhor.

Considero, inclusive, melhor do que a palavra esdrúxula, que não deixa, do mesmo modo, de ser uma palavra interessante. Existe uma melhor designação para uma coisa esdrúxula do que a própria palavra esdrúxula? Eu não conheço. A palavra por si só já é esdrúxula o bastante.

Se analisarmos pelo lado gramatical, creio eu que poucas pessoas no mundo sabem o real sentido da palavra esdrúxula. Por quê?, você me perguntaria, ao mesmo tempo em que exclamaria a si mesmo “ah, quem não sabe o que significa esdrúxula!”. Tudo bem, você é uma exceção, mas eu, por exemplo, até a poucos dias tinha, no máximo, uma idéia do real significado da palavra. Nunca soube exatamente como explicar uma coisa esdrúxula, mas sempre soube o momento exato de empregar a palavra.

Esdrúxula, quem sabe, seja como o amor, um sentimento que, como diria certo autor, do qual o nome é a última coisa que eu lembraria, “é um sentimento que qualquer pessoa é capaz de entender, mas impossível de se traduzir em palavras”. Tudo bem, talvez não seja bem isso o que ele disse, mas a intensidade da frase é a mesma.

Esdrúxulo: essa é a real designação de um autor que coloca o título antes mesmo de construir o texto. Pois novas idéias vão surgindo a cada segundo e, um texto com o título de “Poliglotas”, que abordaria temas como o das mil línguas faladas na África, acabou abordando temas esdrúxulos, como palavras do nível de ryentgyenoelyektrokardiografichxe-skogo, ou mesmo esdrúxula. Um texto em que, para ele, nem Megszentsé-gtelinithetetlenségeskedésertekért seria um melhor adjetivo do que a própria palavra esdrúxula.