Precisamos falar sobre

Há uma espécie de força sombria pairando sobre nossas cabeças ultimamente. Ela não é simples de se entender, nem fácil de se aceitar, mas nós aprendemos a conviver com isso. Não é só o medo. Não é só a raiva. Talvez seja um misto dos dois, mas, ainda assim, é como se estivesse tudo meio bagunçado, bagunçaram nossas cabeças. Nós aprendemos a odiar, e não um ódio qualquer, é um ódio obcecado, obstinado, e independentemente da questão que se esteja em debate, um ódio indiferente e insensível. Mas isso, por si só, já é o ódio. Quem odeia, costuma cegar-se, isso é normal. O que é abnormal, nesse caso, é o que nós odiamos, e principalmente, quem nos ensinou a odiar tanto.

Esse ódio todo, não é por tudo, não é por todos, é um ódio declaradamente pontual, e muito específico. Ele é o ódio a tudo o que se refere a esquerda desse país. Tudo! Sendo mais preciso ainda, tudo que for relacionado a pobreza, é odiado.

Veja bem, se eu começar a falar aqui sobre qualquer assunto que seja do âmbito social ou político, é bem provável que venham me chamar de algum adjetivo criado e multiplicado pelos maravilhosos debatedores de política da internet, tais quais, seriam esses, “esquerdopata, petralha, mortadela”, e por aí afora. Isso é a maior ignorância criada pelos tempos de internet. Discutir política, achando que se está discutindo políticos. Para tais ignorantes, tenho eu que explicar a diferença simplória sobre o que é política, e o que são políticos.

Política é tudo que envolve uma comunidade socialmente interligada, ou seja, o que é do nosso interesse. Em outras palavras, o número de desempregados, é política; a inflação, é política; a carência de educação, é política; a pobreza extrema, é política; a falta de segurança, é política; a diferença exorbitante entre as classes sociais no nosso país, é política; inclusive, o debate sobre a nova regra de aposentadoria, é política. E o que são os políticos? Bom, são os caras que acham que mandam em nós, e resolvem como bem entendem os assuntos que são de nosso interesse. Viu só, nosso interesse. A política é nosso interesse. E daí você diz: “Mas eu voto, rigorosamente, de quatro em quatro anos, nunca perdi uma eleição, blá blá blá …”

Meus parabéns, mas tenho que te dizer uma coisa, isso não muda absolutamente nada. Seu voto não faz a menor diferença, porque você vota em políticos, mas não tá nem aí para a política.

O voto nos castrou. Ele nos acomodou. Você vai lá, leva dois minutos pra votar, ouve o barulhinho e volta pra sua casa ver televisão. Bate panela, sai na rua acompanhar manifestação com sua novíssima camisa verde e amarela.

Não mudou nada, melhor que nem fosse. Poupe sua panela, coitada, deve tá sofrendo.

Discutir uma sociedade, e sua carência estrutural, não tem a ver com partidos, tem a ver com política, com o bem social, o bem de todos, e isso, não é PT, PSDB, PMDB, DEM, droga, isso não é nem Lula, nem Aécio, nem Temer, nem Dilma, isso somos nós. Nós devemos discutir. Nós devemos dialogar, debater essas coisas, pra daí então pressionar quem quer que seja, a tomar um rumo diferente.

Por exemplo, querem eliminar um direito nosso, previsto em constituição: A aposentadoria. Daí vem alguém, defendendo partido e vai dizer: é melhor economicamente, blá blá blá… Uma ova! Vai estudar as tais novas regras, vai analisar, você nunca vai se aposentar, e aposentadoria não é privilégio, é direito. Querem tirar nosso direito. E quem quer tirar? Políticos. E se tirar, vão tirar da esquerda, da direita, vão tirar de todos.

Então esqueça essa droga de guera por um instante. Não importa em que partido você votou. Importa o bem comum. Importa o que é melhor para todos nós. Tenhamos um pouco de empatia, porque se você não precisa de um salário-mínimo, alguém precisa. Muitos precisam. Não olhe apenas para o seu nariz, não quebre o discurso de ninguém, assumindo que ele é de esquerda ou não, poxa, dane-se o que ele é, dane-se em quem ele vota, quando chegam ao poder, políticos são todos iguais. Estamos brigando entre nós, enquanto eles fazem o que querem. E quem faz? Os políticos. Nós somos a política. Nós precisamos impedir que continuem tirando de nós, tudo aquilo, que é nosso por direito. Direito não é privilégio, é direito.