RAIO DE CÉU

Parei um segundo pra fitar o céu que fagulha sobre nossas cabeças, que açoita venturosa no batente da janela, que manifesta sua beleza iracunda no ombro da porta e no batente das pessoas. Ó céu de granizo derretido, sua ira é mais tempestuosa que a guerra de cadáver finda. Sua espada vertical à guerra cerra. Sua nuvem horizontal aos olhos cega. Seu lampejo guarnece luz impetuosa. Seu ímpeto assusta até poetas escondidos, que dirá guerreiros expostos. Céu desaba rio que flutua. Ribombo despenca machado sob a árvore, estrondoso, à corta. Meu coração se parte, outra vez bate, bate, parte! À qual parte? Por onde partiu, se não juntos às flechas hediondas do vento. Em popa carrega à lugar algum. Árvore despenca, casa desmorona, tombo-me. Vem vento molhado secar as lágimas dessa gente de casa caída. Vem vento, rápido e lento, molhar as raízes arrancadas pelo teu próprio peito, faz, faz do teu jeito! Derrube o pranto dessa nuvem negra que jamais se viu. Depois serena teus olhos, abranda o coração e abra uma fresta pelo céu que adensa pela floresta, pois a flor que se abre ao sol é a mesma que embeleza tua festa. Embebido estou pelo festejo de tua beleza, pela força que jamais fraqueja, pelo clarão ascentente que relampeja por entre o céu de mármore da natureza.