A outra Novela

Uma novela dos anos 80 e uma história comicamente trágica ou tragicamente cômica.

— Minha filha vai se chamar Jô Penteado e quero que seu esposo se chame Fábio. Nunca vi uma novela boa como a Gata Comeu! – Dizia em suspiros aquela mãe a todos os visitantes, alisava com ternura a imensa barriga como se personagens reais da novela fossem sair dali.

Não passou mais que dois dias e o choro da menina Jô ecoava no Bloco Obstétrico do Hospital do Estado. Era mil novecentos e noventa e cinco, quando garota que adorava pular corda e dançar, completava nove anos de idade. O painel era uma foto da abertura da novela A gata comeu pelas paredes se espalhavam rostos de Cristhiane Torloni, Nuno Leal Maia e outras personagens da trama. Na hora dos parabéns um garotinho de dez anos com cabelos escovados para o lado, entrou levado pelos pais até a aniversariante. Era Fábio, filho do dono da casa de festas que ornamentava aquele ambiente, Jô naturalmente já sabia que o seu destino seria casar-se com um Fábio, o pequeno coração dava ali seus primeiros saltos de uma alegria diferente que não era a mesma de ganhar uma boneca. Os anos pegando carona em costa de vento forte passaram logo e, sem completar quinze anos Jô e Fabio já iriam ser pais, a mãe dela de joelhos no chão agradecia a Ivani Ribeiro.

— Obrigado por ter escrito aquela novela. Minha filha será mãe com a pouca idade que tem, mas serei avó de um filho de Jô e Fabio! – Lágrimas escorreram, mas os olhos foram limpos.

A vida seguiu cada dia mais diferente da ficção daquele conto de fadas dirigido atrás das câmeras. Jô sofria balançando “Mateus” e o marido jogava vídeo-game e se trancava no banheiro com revistas pornográficas. A mãe dela pedia paciência, já, já ele muda, dizia incansavelmente, até o dia do basta. Jô feito a personagem sem memória, largou tudo e desapareceu. Mobilizaram vizinhos, policia e até jornal, nenhuma noticia chegava, tiveram a idéia de fazer cartazes. O dono da Funerária era amigo da família e aceitou patrocinar cem exemplares, mas com o direito de colocar o nome da firma em baixo. Aceito, então se lia “A Funerária Rumo a Cova comunica com pesar o desaparecimento de Jô Penteado” Quem lia rápido fazia o sinal da cruz entendo que era falecimento. Mas passaram-se dois anos e um dia quando a mãe se ajoelhava em frente aos santos no oratório da sala, aparece à filha com uma criança nos braços acompanhada de um homem. Segundo ela era seu marido Fábio, procurara alguém com o mesmo nome para honrar a vontade dela. A felicidade foi intensa, a vizinhança chegava entrava e saia para revê-la, alguns com pouco discernimento na fala diziam que a davam como morta, pois sonharam com seu caixão. Assim o conto de fadas voltava a reinar naquela mãe, que sempre repetia que jamais vira novela melhor que A gata comeu. Porém como já foi dito, ficção e vida real têm lá suas diferenças, e Fábio não gostava de trabalhar, era mulherengo e possessivo, certo dia ameaçou de cortar a esposa com uma faca de cozinha. Ela desesperada deu um basta e fugiu na calada da noite. Fábio também “virou fumaça” à mãe de Jô tinha agora a responsabilidade com dois netos. Quando os dias haviam passado rápidos como sempre fazem, ela com dor apertada no peito saiu às ruas com o pensamento de reunir os vizinhos, chamar a policia e pedir o dono da Funerária patrocínio para fazer cartazes. “Mas espera ai!” pensou ela.

— Vizinhos, policia, jornais e cartazes. Fábio, filhos e a responsabilidade de cuidar vai ser minha novamente! Quer saber de uma coisa, essa novela talvez nem tenha sido boa desse jeito. Tem uma que passou com Toni Ramos e Elizabeth Savala, como é que era mesmo o nome dela? – Assim aquela mãe voltou para casa sem remorsos, forçando a memória para lembrar-se de outra trama.