Um sonho de liberdade...

O tempo passara e eu nem havia percebido.
Naquele momento, pus-me de frente com o espelho e, pude observar o quanto eu tinha mudado.
Curiosa, observava as mudanças que meu corpo sofrera ao longo desses anos. Já não era mais uma criança ... meu colo se formava e havia sinais claros de que eu me tornara uma mocinha, com 13 anos já completados.
Vivia uma fase de novas descobertas e me encantava com a vida, sob um prisma mais romântico e diferente ... queria conhecer um pouco mais sobre o mundo.
Embora sentisse-me sozinha, ainda assim tinha a Carla, minha irmã emprestada, que me orientava e comprava as coisas mais necessária e de uso pessoal.
Por outro lado, minhas tarefas de casa aumentavam a cada dia e, por consequência, passei a estudar no período da noite.
Num colégio de freiras, estava mais livre e sem o jugo e pressão da Madrinha sobre mim.
Parecia que ela, enfim, resolvera dar-me uma trégua.
Os dias eram muito corridos e, eu nem tinha tempo para estudar ou realizar as tarefas de casa. Meus deveres da escola, sempre eram apresentados de forma incompleta, ou sem qualquer indício de que teriam sido começados.
Recebia os castigos inerentes à alguém irresponsável, sempre com a exigência da presença da Madrinha, mesmo as freiras sabendo o tipo de vida que eu levava e sobre as punições que certamente recairiam sobre mim.
Como a cidade era muito pequena, todos se conheciam, os comentários eram diversos.
No entanto, o que mais mexia comigo, era o fato de eu não ter roupas para ir à escola e muito menos sapatos.
Todos os outros alunos iam de sapatos e bem arrumados, enquanto eu não tinha nada mesmo. Usava minha única e velha roupa, rota e esfarrapada, com os pés miseravelmente calçados com um par de sandálias de dedos, já sem a parte de trás, onde os calcanhares se apoiavam.
Isso passou a me incomodar. Eu sentia vergonha e percebia que todos me olhavam com indiferença.
Até que observei que a maioria vivia como eu ... não moravam com os seus familiares.
Havia jovens, que eram cuidados por pais emprestados, que se propunham a ajudar famílias carentes que não tinham condições de dar sustento e educação aos seus filhos.
A única diferença é que não eram maltratados, e viviam como gente decente e mantinham contato com seus familiares ... e eu morria de saudades da minha mãe, meus irmãos e minhas irmãs.
Comecei uma amizade com uma garota da minha idade, com quem eu conversava sobre a vida que eu levava e as dificuldades que enfrentava numa casa onde todas as tarefas recaiam sobre mim.
Confiava nela, de verdade. Tinha vezes que a encontrava na igreja, aos domingo, mas fingíamos não nos conhecer.
Madrinha não permitia que eu tivesse amizade com ninguém ... ela não me dava esse direito.
O fato de estudar à noite foi muito bom para mim, por que eu me sentia com mais facilidade de engendrar um plano para sair das garras de Madrinha.
Via uma possibilidade real de fuga, não importava para onde eu fosse, desde que pudesse me libertar daquela mulher que, como uma tortura, todas as noites me fazia tomar a sua benção antes de dormir.
Eu confiava em Deus, e sabia que isso não seria pra sempre !!!