Ar assassino

Silêncio. Depois “bumm”. Gritos de desespero e agonia daqueles que ainda respiravam. Um pensamento apenas ecoava em minha mente: minha amada família.

Em meio ao ar assassino fui ao encontro daqueles quem amava e necessitavam de ajuda. Corri para casa, e quando entrei, vi meu irmão morto. Na minha mente se passavam turbilhões de lembranças que outrora vivemos juntos. Não pude demorar-me ali com ele, eu precisava encontrar os outros. Logo adiante, encontro meu sobrinhos mortos. Mais mortos, meu pai, meus irmãos... Nem máscaras, nem antídotos, nem vestimentas... nada puderam evitar... Perdi os sentidos, era minha hora, minha vez de encontrar-se também com Alá, apenas algo me confortava naquela chacina: minha esposa e filhos estão num lugar seguro...

Vejo uma luz, estou acordando... encontrei-me com Alá!

Não, ele não me recebera, estou em outro lugar, numa cama de hospital, ainda desnorteado pelo ar cortante e principalmente pela dor incurável que sinto nesse momento, que nenhum leito de hospital, remédio poderá curar. Meus familiares mortos!

“Só consigo pensar em minha esposa, onde estão meus filhos? Onde está você, Dalal?”

Não pude suportar ao me dizerem que eles estavam mortos! Por quê? Eram apenas bebês! E minha linda esposa, e toda minha família num só dia! Não pudemos ao menos nos despedir.

A cidade aspirava à morte. Em todos os lugares cadáveres esperando quem os enterrassem. Houve rumor de um segundo ataque. Não pudemos dar um enterro digno a ninguém, apenas enterramos todos na mesma fossa. Uma mulher, no seu ato de desespero, queria seu filho de volta, queria beijá-lo, abraçá-lo, dar um último adeus. Tivemos que impedi-la, pois todos os cadáveres estavam contaminados.

Um pesadelo real e uma frase que ficará eternamente na minha memória: “Tenham cuidado! Há algo estranho!”.

Baseado na triste reportagem abaixo

Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/06/internacional/1491493398_159419.html >

Disponível em: < https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2017/04/12/perdi-mulher-meus-bebes-gemeos-e-19-parentes-conta-sobrevivente-de-ataque-quimico-na-siria.htm >