Por que expulsaram o Marcelo Madureira?

Fiquei surpreso quando soube que o Marcelo Madureira havia sido expulso da manifestação carioca, na greve geral de 28/04/17. Há tanto tempo não ouvia falar nele. Pensei que ele estivesse escondido com o Belchior, cuja morte, coincidentemente, foi anunciada dias depois. Procurei me informar sobre o que ele andou fazendo ultimamente. Fiquei ainda mais surpreso. Descobri que ele se tornara um dos seguidores da seita do patinho amarelo! Estava explicado o seu sumiço. Ele fora ofuscado por aquele oriental, aquele que é um dos profetas da seita, cujo nome nunca lembro.

Fiquei triste por ver sua triste sina, mas para mim isso ainda não explicava o porquê de sua expulsão. Decidi então, na melhor tradição do jornalismo mentira, procurar levantar, no bom sentido, o que ocorrera com o outrora tão divertido humorista. Foi difícil, já que havia várias versões. Isto é comum em eventos sem importância como esse. Digo isso comparando a magnitude das agressões que ele teria sofrido com aquelas que os demais sofreram da PM. Mesmo assim prossegui.

Procurei alguns manifestantes que, estranhamente, cobriam o rosto. Disseram que foi legítima defesa. Tudo começara quando, inadvertidamente, eles começaram a ser violentamente agredidos pelo Marcelo. Do nada ele surgiu e, de forma impiedosa, lhes atirou, sem parar, péssimas piadas de duplo sentido. Alguns deles chegaram a implorar à PM que antecipasse a sessão de paulada, para livrá-los de tamanho martírio. Mais uma vez a PM desrespeitou os direitos humanos, talvez até os dos animais. Como estava a uma distância segura, de onde nada ouvia do cruel ex-humorista, a PM se recusou a antecipar a sessão de pancada! Garantiram apenas que, para compensar, a sova de mais tarde viria com juros e correção monetária. Ninguém pode negar que eles cumpriram a palavra.

Como o ataque do pretenso cômico não cessasse, decidiram oferecer-lhe um pavê. Engraçadinhos não resistem a trocadilhos com pavê, que dirá um engraçadinho gordo. Talvez isto o distraísse por algum tempo, o suficiente para a PM entrar em ação. Porém, de forma inexplicável em um dia de greve geral, não havia nenhuma confeitaria aberta! Sendo assim decidiram formar, para expulsar o algoz, um esquadrão de manifestantes surdos. Mesmo sendo surdos, alguns tremiam. Tinham medo de, acidentalmente, fazerem leitura labial. Diante da inviabilidade de formar, a tempo, um esquadrão de manifestantes surdos e cegos, foram tranquilizados. Ninguém conseguiria fazer a leitura daqueles flácidos lábios. Encorajado, o esquadrão cumpriu sua missão com louvor. E as supostas agressões que ele teria sofrido foram apenas uma interpretação equivocada dos gestos do esquadrão, obviamente se comunicando na linguagem dos sinais.

Cometi o erro de lhes dizer que essa história estava meio forçada. Afinal seria difícil, em tempo hábil, formar um tal esquadrão, com surdos tão corajosos. Começaram a me olhar de cima abaixo, em busca alguma peça de roupa amarela. Perguntaram se eu acreditava nas santas escrituras de Marx. Lembrei que tinha um outro compromisso e, sensatamente, dei no pé.

Procurei então alguns seguidores da seita do patinho amarelo. Desmentiram os manifestantes. Disseram que as agressões ao bravo humorista foram motivadas meramente por vingança. Um dos radicais ali presentes tinha passado por um evento raro. Uma vez tentara interromper uma manifestação pacífica da seita, tendo sido vaiado. Ora, esse comunista teria notado, no “cofrinho” exibido pelo Marcelo, a presença de uma cueca amarela. Foi tomado pelo desejo de vingança. Chamou outros vermelhos covardes e agrediram o heroico patriota Gritavam que ele era um agente infiltrado, e o espancaram tão violentamente que ele ainda se encontra na UTI.

Perguntei se ele fora realmente mandado pela seita. Me disseram que a questão não era essa. O erro foi o de “…vingar um corretivo democraticamente aplicado, digo, vaias, com uma sessão de pancadas”. Disse-lhes que a versão tinha um problema. O Marcelo já fizera várias aparições públicas após o evento, logo não estava na UTI. Raivosamente me disseram que eu vira um dublê. Senti que era a hora de dar o fora, mas, desta vez, não houve a etapa de exame do vestuário. Antes que eu pudesse fugir me chamaram de petralha, e me aplicaram um corretivo democrático.

Diante de versões tão antagônicas, decidi entrevistar o ex-humorista. Corajosamente voltei, disfarçado, a um dos templos da seita. Buscava encontrar pistas sobre o paradeiro do Marcelo. Não obtive sucesso. Antes que pudesse dizer algo, recebi mais um corretivo, democraticamente aplicado. Ao chegar em casa, ainda tentando entender o que acontecera, fui recebido pelo olhar benevolente da minha esposa. E ela me disse, delicadamente, para nunca mais fazer “…a burrice de tentar adentrar a seita usando uma camisa vermelha!”.

Minha esposa sempre foi fonte de inspiração, e neste caso não foi diferente. Foi então que percebi porque, com ou sem agressões, expulsaram o Marcelo Madureira da manifestação. Foi por burrice. Burrice sim, porque, caso ele tivesse sido simplesmente ignorado, teria feito sua gravação, ido embora, e postado o vídeo em seu site. Teria sido, simplesmente, mais um de seus vídeos a serem assistidos por meia dúzia de parentes e amigos, algo quase tão obscuro quanto meus textos. A maioria das pessoas ainda pensaria estar ele no esconderijo do Belchior. Porém, graças à burrice daqueles que o expulsaram, ele conseguiu ganhar mais uns quinze minutos de fama. Mais espaço para divulgar as ideias (?) da seita do patinho amarelo.

Quando erramos não adianta lamentar. Devemos sim, procurar aprender com nossos erros. Eu, por exemplo, jogarei no lixo todas as minhas camisas amarelas e vermelhas (devo ter uma de cada) para nunca mais tomar surras, ou corretivos, por uma questão de moda. Minha mulher disse que, inclusive, isso deve evitar problemas com grupos menos perigosos, como os dos traficantes.

Já meus entrevistados devem se preparar: o que vai ter de ex-BBB tentando tomar surra em ato político…