Crônica do Primeiro Beijo

O garoto sentia algo diferente crescer dentro de si. Mal conseguia fitá-la por mais de um segundo e voltava a olhar para o chão. Rolava uma pedrinha por entre os dedos, na tentativa de se distrair de si mesmo. Inútil. Sentados ali, naquela grama recém cortada, a brisa fresca do final de tarde que os encontrava, moldava os cabelos dela, liso cor de mel, com uma naturalidade espantosa. Os últimos raios de sol que tocavam seu rosto, iluminavam-o como ouro puro. Sentia-se emocionado, prestes a chorar. Conversavam sobre qualquer coisa, mas já nem prestava mais atenção. Tudo parecia estar se encaminhando para uma única direção, que ele ainda não havia decifrado. O frio na barriga crescente de uma ansiedade boa, um misto de curiosidade e desejo incontrolável, lhe causava um rubor que lutava para não expor. Mas como evitar? Como controlar algo que não se têm controle! E foi assim que, naquele momento, houve um último olhar trocado antes do inevitável. Inevitável esse, aliás, que ele jamais ousaria tentar evitar. Suas bocas se aproximaram e os seus lábios se encontraram uma vez, depois outra e por fim se fixaram. E então, um infinito se abriu na sua frente. A vida cotidiana que os rodeava desapareceu por um um segundo, ou uma hora, ou... ele não foi mais capaz de contar o tempo. Embarcou no oceano infinito e calmo dos lábios dela. Estavam no centro do parque, mas no seu íntimo ele se sentia no centro do universo. Foram poucos segundos que se tornaram o início, o fim e o meio de tudo, uma erupção de sensações inexplicável, incalculável, que seguia mais e mais em direção ao topo, a um limite que parecia a cada instante mais alto e maravilhosamente novo, puro e desafiador!... E então lentamente se afastaram. Ainda em êxtase ele sentiu o frio na barriga se movimentar rápido pelo seu peito, pela garganta e chegando finalmente à sua boca, sabia exatamente o que dizer, e disse:

- Eu te amo.