Sonhava em ser um "cowboy" aos nove anos, descobrira a minha verdadeira vocação, como o "Paladino do Oeste", e ter um par de cartucheiras,( sim, uma só não valia), e  balas no cinturão de fivela prateada.
                  Montar um cavalo malhado , como o dos índios ( os cavalos dos índios eram mais bonitos), parar no "saloon", entrar por aquelas portinholas e sair umas dez vezes só para vê-las balançar, e só então pedir um uísque cujo copo  corresse por todo o balcão, parando na palma da minha luva. Não o tomaria, pois com nove anos vomitaria ali mesmo.
                 O bigodudo que tocava o piano tremeu de medo ao me ver, e as dançarinas correram escada acima, pois o pior já estava para acontecer, os homens que jogavam cartas pararam , e com os olhos da nuca os pude notar, meus dedos estavam se mexendo e ao menor ruido, me viraria para atirar, afinal eu era o mais rápido de todo o Oeste, e quando o " Cara de lobo" viesse seria mais uma marca na árvore, iria acabar com ele, que tombaria depois de um duelo.
                 Quando o Natal estava próximo o meu pai me perguntou; " Pepito, o que gostaria de ganhar ?", ele se preocupava com os sonhos, então lhe disse; "Um par de revolver com as cartucheiras ", então riu-se do meu pedido, sabia o quanto eu gostava do "faroeste" com índios e cavalos, e já imaginava o quanto viajava na fantasia. 
                  Na manhã do Natal lá estava a caixa com o desenho do Arizona na capa, e ao abri-la , os olhos faiscaram junto com o sorriso, não cabia em mim de felicidade, e andei vestido de "cowboy" até para ir a mercearia, e os adultos me diziam; " Você não vai atirar em mim, não é filho ?".
                  Hoje esses brinquedos são " incentivos " ( ?), a violência, vê se pode ! Nunca pensavamos isso, nem eu e nenhum dos garotos da minha idade, nós vivíamos a fantasia dos filmes de John Wayne, a inocência não dava espaço a violência, e nossos pais já sabiam disso.
                  O que mudou ?

                  PS: Alterei o tempo verbal propositalmente no segundo parágrafo, me jogando no passado, eu gosto de fazer isso, como uma pequena viagem pelo  túnel do tempo.
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 10/05/2017
Reeditado em 11/05/2017
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