Sintam comigo o sabor de descobrir algo óbvio e bobo, mas deliciosamente interessante.
       Somos um povo doce, que degusta com facilidade as agruras da vida. Somos doces com os além-mar, somos doces com os superiores. Somos um povo que tem no recheio de suas misturas um sabor aveludado, convidativo.  A doçura no olhar de quem pede já sabendo que vai receber o desejado.

      Não gostamos do amargor do dia a dia, e muito menos da segunda-feira, de discutir seriamente o que nos amarra a boca, tal qual uma manga verde. Gostamos muitas vezes do amargo da bebida, mas do remédio geralmente não. Nos amargamos quando nossos filhos perdem um campeonato de futebol de botão, mas nunca quando a universidade faz greve por 120 dias e um ano perdido.  O amargor de perder nossos amados, para somente alguns poucos armados, nos deixa na boca um gosto de sangue amargo.

    Tudo nesta nação  azeda por puro relaxo, porque não se fêz  a coisa certa, na hora certa. O azedo,  que quando muito forte nos faz fechar os olhos e fazer caretas engraçadas e que também quebra a rigidez da aguardente na saborosa caipirinha. Azedamos até mesmo o que não é para azedar, tal qual o polvilho ou a amizade.

    No salgado sim que nos perdemos ou até mesmo morremos,  como os hipertensos cardiopatas. Adoramos dar uma salgada, principalmente ser for a vizinha ou a cunhada. O salgado do bacalhau e da picanha, nos enche de água na boca (agradei o masculino com o peixe e o feminino com o corte, ou quem sabe nenhum destes). O mar só podia ser salgado mesmo, tal como o céu somente azul e o fogo avermelhado.

     Somos um povo que mistura tudo isso e faz um bela feijoada, sem se importar quantos virão à nossa casa, afinal Maria pode pôr mais água no feijão. Convidamos todo mundo para um cafézinho em casa, mesmo sem saber o nome,  ou se é vivo ou morto. Chegamos a "beber o morto" com a maior alegria,  além de engolirmos vários sapos....alguns inclusive barbudos. 

     Nossos sabores são únicos e esquisitos, como assim dito na velho castelhano. Delicié dizem os franceses, mas para pratinhos  tão pequenos, não mereciam tamanha fama. Os malucos chamam de larica, os manos da periferia de maó fomi.
     
      Quando juntam azedo com doce, temos agridoce, as outras combinações nem ao menos foram tentadas. Despeço-me com o sabor da vitória de mais um dia, que é doce e não se serve frio,  como se faz na vingança.

     Um pausa..........este texto ficou com gosto de quero mais,

     Beijão nas maçãs do rosto das meninas e um aperto de mão para os marmanjos.