O primeiro encontro

Ah, os caminhos da vida! Estávamos num primeiro encontro que poderia ser o primeiro de muitos outros encontros e, enquanto procurávamos no mais fundo de nós a melhor maneira de nos conhecermos, esquecíamos, por alguns segundos, de tudo que nos levara até ali. Enquanto trocávamos gostos e discutíamos nossas músicas preferidas, esquecíamos que, antes, estivemos em primeiros encontros que não passaram de encontros que, logo logo, desencontraram-se. Ou que já amamos outras pessoas que, um dia, estiveram diante de nós pela primeira vez. Não sabíamos o que o futuro nos reservava, não sabíamos se, dali a algumas semanas, estaríamos sendo apresentados em almoços de família ou se iríamos nos perder nos contatos telefônicos um do outro. Naquele momento, em que éramos maiores do que tudo que nos aconteceu, demos ao futuro uma chance pois que nos confiamos a ele. Não era mais a menina que, há muito, mudava de escola e enfrentava um mundo totalmente novo ou, tampouco, aquela que terminava seu primeiro relacionamento, tão longíquo quanto seus 18 anos. Naquele momento, eu tinha 20 anos.

Já não me importava quantas vezes meu coração fora partido ou os tantos momentos que me senti só. Seria quem quisesse com a singeleza de ser quem era. Arrisco que, naquele momento, não tinha passado e, a cada segundo, tornava-me mais presente. Poderia dizer que era religiosa, que gostava dos Beatles e que meu cachorro é a melhor pessoa do mundo. Poderia, também, dizer que amo meu avô e que minha cor preferida é roxo ou que, se pudesse jantar com qualquer pessoa do mundo, jantaria com a Clarice Lispector. Ou não. Poderia não dizer nada e ficar ali, em silêncio, escutando-o contar tudo que aconteceu antes daquele dia que, por ora, era o único das nossas vidas. Poderíamos omitir tudo, esquecer do mundo, e recomeçar nossa história.

Talvez amor seja isso mesmo, um novo universo que nos chama quando aquele em que vivemos já não mais nos cabe, quando queremos ser mais. E como há magia nos primeiros encontros em que o futuro parece habitar-nos enquanto decidimos se vamos ou não aceitar seu chamado. Ainda não éramos nada, não tínhamos história e nem passado. Poderíamos não ser nada. Tínhamos, entretanto, aquele momento em que poderíamos ser tudo. E, por esse momento, já fazíamos de nós, uma visão esperançosa de futuro.