Chuvas de Março

Naquela manhã, o dia amanhecera choroso! Era uma chuva fina que caía desde a madrugada, sem parar. O dia todo ia ser assim.

No fim da tarde, o tempo prometia uma tempestade medonha. O céu escurecera de repente e uma forte ventania iniciava um espetáculo que se repetia todos os anos nessa época. O vento varria as folhas ferozmente, as árvores se dobravam como se fossem ser arrancadas pelas raízes. Em seguida, o céu chorava como nunca, e uma chuva torrencial lavava e levava tudo, com voracidade. Melhor mesmo era ficar em casa. As águas do córrego Capivara que cortava a parte baixa da cidade de Nerópolis, em pouco tempo se tornavam um rio caudaloso, alargando suas margens, levando tudo que encontrava pela frente. Animais e árvores passavam boiando como se fossem brinquedos nas mãos de uma criança. A ponte da saída velha de Anápolis ficava quase submersa e à sua volta troncos e garranchos encalhavam, formando uma cachoeira no meio do leito. Era uma imagem dantesca e, ao mesmo tempo, bonita de se ver. Era a chamada Enchente de São José.

Depois de tudo, vinha a calmaria. Uma semana de uma chuva fina, leve, quase uma garoa. Era como se a natureza lamentasse o estrago que fizera dias atrás.

Ranon Machado
Enviado por Ranon Machado em 21/05/2017
Reeditado em 22/03/2019
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