A CULPA NÃO É DAS ESTRELAS

É tudo culpa da culpa. A gente sabe que não é nossa, mas a danada insiste em culpar alguém. Nós, como bons indivíduos, não conseguimos culpar a ninguém, a não ser nós mesmos. Mas a grande questão é: não devíamos estar procurando culpados. E se estivéssemos buscando um único, iriamos encontrar milhares, pois todos nós somos culpados.

A preocupação com assuntos ligados à imigração nos persegue há anos. Melhor ainda, a palavra liberdade ainda não é entendida em sua magnitude. Todos nós, em essência somos livres, porém enquanto cidadãos de uma sociedade, não o somos. E se tentamos seguir essa tal sonhada liberdade totalmente livre, pagamos um preço bem alto por isso.

Nenhum ato de crueldade justifica a batalha por essa liberdade. Podemos e devemos dialogar e mostrar todos os exemplos reais de incidentes que aconteceram e que não promoveram nenhum avanço nesse aspecto. Mas precisamos insistentemente insistir que os responsáveis por esses assuntos, olhem para ele com muito mais cuidado.

Eu nasci no Brasil, aliás, em Belém, mas vim para São Paulo e nunca acreditei que aqui fosse o meu lar. Por isso, comecei a viajar. E em cada lugar onde já estive, encontrei fatos bons e ruins, alguns que me levaram a pensar se valeria a troca de minha residência fixa por aquele lugar, outros que me garantiram que aqui, exatamente onde estou agora, era um lugar mais favorável à minha existência.

A verdade é que ainda não me encontrei no mundo. Faltam inúmeros lugares para visitar, conhecer e descobrir como residência. Mas sei que quando encontrar, terei dificuldades. Não nasci com olhos azuis, e para pessoas que tem olhos azuis, tudo é mais fácil. Não me entendam mal, não sou um ser dotado de preconceito. Muito menos queria ter olhos azuis.

Porque ter olhos azuis é fazer uso de um privilégio. E só por conta de seu país de nascimento. O que apresento aqui, não se trata de privilégio algum. Na verdade, talvez seja. Mas trata-se de um privilégio dado aos indivíduos em sua totalidade.

É como aquela velha frase onde se lê que o mundo é grande demais para nascermos e morrermos no mesmo lugar. O ser humano deve ser livre para escolher o lugar onde deseja construir a sua história. E a única consequência disso deve ser com honestidade batalhar pela sua felicidade, pois assim a felicidade dos demais indivíduos também estará preservada.

Em um templo sagrado, como uma arena, uma igreja, uma casa de shows, uma sala de cinema, uma escola, um prédio comercial, um apartamento ou simplesmente uma casa qualquer, não deve existir medo ou qualquer tipo de ameaça. Todos esses lugares devem ter sido construídos sem nenhum desses sentimentos. Essa é a premissa básica da engenharia.

Na engenharia da vida, por sinal, também não devemos levantar nada nessas vertentes. Por isso, Ari, não se culpe. Dizem que a nossa casa é onde o nosso coração está. E o teu estava ali presente, pulsando por cada uma das pessoas que te assistiam assim como batia forte no show em que estive 2 dias antes na 3Arena em Dublin.

Então tudo bem se você quiser culpar alguém que não seja você ou as estrelas, porque ambas estão cumprindo seus papéis de iluminar cada uma dessas pessoas que nos deixam repentinamente. Voltando a culpa, talvez seja bom acender um holofote bem forte sob a cabeça do senhor presidente do teu país, que como em nenhum outro período da história, insiste em culpar os iluminados: imigrantes que mesmo sem olhos azuis ajudaram a tornar os Estados Unidos na maior potência do mundo.