CONSCIÊNCIA DE RATO

Se os ratos pensassem, qual seria sua opinião sobre os homens pensantes? Na escuridão das sombras, entre buracos e fendas, frestas e bueiros; observando do seu mundo subterrâneo, a cultura irracional dos chamados seres racionais: quais seriam as suas considerações acerca da humanidade?

Eu já ouvi alguém, em algum lugar, dizer que homem sem consciência tem consciência de rato. Sem querer ofender os bichinhos, é claro! Afinal de contas, o que seria dos Sapiens, dos Erectos e dos sei lá o quê... não fossem os tais branquinhos de laboratório que vivem prestando serviço milenar à raça dos seres pensantes?

Acerca dos ratos, propriamente dito, sei bem pouco. Sei apenas que são mamíferos, muitas vezes intolerados, e exímios roedores. Às vezes, um pouco chatinhos, é verdade! Principalmente quando inventam aquele negócio de: “o rato roeu a roupa do rei de Roma”.

Outra coisa que sei é que eles têm verdadeira paixão por queijo. E que

os homens, via das vezes, vivem querendo matá-los. Outro dia, ouvi um cientista que tentava explicar o asco que os sapiens sentem acerca dos tais e, pasmem: É congênito! Isto é: eles, os ratos, não precisariam fazer nada para serem desdenhados. Tampouco precisariam “roer a roupa do rei”. Pois os homens que pensam, já nascem sintomaticamente pensando em odiá-los. “Seria isso, quem sabe, algum tipo de segregação congênita?” Exemplo: os homens que já nascem odiando os ratos acabariam também por odiar os brancos, os negros, os judeus, os índios (...) sei lá?!

Mas, voltando à questão da consciência, tal frase parece dizer que rato não tem mesmo consciência. E, se tem, é, sem dúvida, tão pequena que não dá sequer para ser notada. Os roedores, por sua vez, poderiam argumentar em sua defesa dizendo: “Nós, na verdade, até assaltamos algumas dispensas e geladeiras, mas sempre para suprir as nossas necessidades. Ninguém jamais viu um rato assaltando outro rato ou matando os irmãos de sua raça”.

E nós? (...) Os seres, moralmente conscientes! As máquinas pensantes! Como explicaríamos aos ratos, a saga de nossa raça? Os corpos em sangue nas praças e as nossas armas de extermínio em massa? –E quem precisa explicar? –Diriam os mais “conscientes”. Afinal, os ratos não pensam e tampouco falam. Portanto, não se defendem! Então, continuemos a lançar nossa crise de consciência em cima dos pobres roedores inconscientes (...) Afinal, rato não tem mesmo consciência! (...)

E o homem, tem?