Um dia diferente

Como todas as manhãs, ela aguardava o transporte público chegar. Os holandeses os chamam de TRAM, uma espécie de bonde elétrico. A pacata vida dela na cidade de Den Haag havia se tornado extremamente rotineira. Acordar sete da manhã, fazer o café utilizando-se de sua Bialetti italiana, tomar uma ducha, preparar seu sanduíche, colocar as roupas que passou no dia anterior, colocar seus fones de ouvido e aguardar o tram número 17 das 7:48 que vai em direção a Rijswijk.

Mas naquele dia, ao entrar no tram, ela retirou os fones. O motivo foi simples. Ela observou com seus olhos verdes o céu pela janela e por um minuto parou em estado contemplativo. Observou e ouviu as pessoas ao seu redor em seguida. Creio que alguns questionamentos passam pela cabeça de muita gente, mas de repente ela se viu perguntando a sí mesma a razão de tudo. Observava o importante homem de terno agressivamente dando bronca em algum funcionário pelo telefone. A mulher sentada á sua frente com o filho ainda criança, claramente o levando para a escola. Observava as pessoas com suas bicicletas na rua. Suspirou, mas no fim sorriu. Sentido? Há sentido sim. O que ninguém percebera naquela manhã além dela, é que o sentido é individual. Enquanto todos giram como uma engrenagem acreditando que existe um único sentido, poucos percebem que a possibilidade da vida permite que escolhamos qualquer sentido que quisermos para a ela. Talvez por isso tantas pessoas sigam o mesmo rumo diariamente. Basta saberem que podem livremente escolher, e não obedecerem nenhum fluxo obrigatório.

Ela colocou novamente os fones. Ainda duas horas depois, o sorriso permanecia em seu rosto.

Marcello Morettoni
Enviado por Marcello Morettoni em 01/06/2017
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