I see dead people

Não havia bêbados trajando luto que me lembrassem Carlitos enquanto minha tarde caía ontem, embora a lua sim, no final da sua fase nova, brilhava entre as nuvens que anunciavam esse chuvisco gelado de hoje. Mas o que não faltou foi espaço para o eco do tempo que deu no peito quando me dei conta que já estamos em junho. Mês do meio e que me concede mais um ano para minhas contas de vida.

Apesar dessa coisa de tempo que voa ser um clichê, é impossível não pensar quantas dessas onze-horas na minha janela já nasceram e morreram de janeiro até cá. Analogias infames se pensarmos que as onze-horas podem ser dadas como confissões de amor.

Observo o tempo enquanto tomo café para amenizar o frio e os pensamentos. Já que estamos no brasil, e ver o tempo passar aqui não tem sido coisa leve. “É a lua no signo de virgem” - alguém pode dizer. E eu sorrio com a simpatia de quem aceita toda boa intenção, mas não sem antes tomar mais om gole do café: onde será que a lua estava quando o mundo virou essa loucura? Ver as tardes caindo por aqui só tem sido favorável pela imagem do cruzeiro que resplandece e pelo lábaro que ainda ostentamos estrelado.

Enquanto as onze-horas nascem e morrem aqui na minha janela, a esperança desequilibra junto com a tarde. E eu vejo pessoas se transformarem nessa frente fria e alheia ao tempo que corre. Eu vejo muita gente cool no Instagram e blasé no “ao vivo”. E o tempo corre.

Mais uma tarde cai no calendário.

*Textos de Quinta - Para fugir da responsabilidade.

Um a cada quinta. Não é promessa, é desejo =)

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 01/06/2017
Código do texto: T6015492
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