METAMORFOSE

Hoje sou outra pessoa. Rompi com os laços dominantes que me prendiam a conceitos retrógrados de uma sociedade hipócrita e exclusivista com suas regras fundamentadas numa moral religiosa arcaica, machista, intolerante e preconceituosa. Alienada aos tentáculos da padronização a humanidade caminha dócil e servil a um sistema cruel, inescrupuloso, insensível, cujo único objetivo é o uso e a manipulação das massas. Encarceradas numa prisão sem grades regozijam-se e orgulham-se de suas míseras conquistas. Inocentes e submissas não veem que são migalhas comparadas ao montante que por direito mereciam. Inebriadas por uma fé cega, rigorosamente indiscutível e inquestionável, cantam louvores a seus déspotas em agradecimento pelo pão.

Hoje sou outra pessoa. Desvencilhei-me das convenções sociais, da falsa moral religiosa, da passividade dos acomodados que me impediam de pensar. Foi um processo lento, gradual e doloroso, como extirpar uma trave encravada no olho sem anestesia. É muito difícil desapegar de algo que aparentemente faz bem. Fragilizado pela angústia do conflito muitas vezes pensei em desistir. Lutei muito contra as poderosas forças invisíveis que me atrelavam a velhos conceitos arraigados no fundo de meu ser, enraizado nas entranhas de meu subconsciente, que quando combatido, tornava a brotar de suas raízes. Com o passar do tempo compreendi que capinar a erva daninha não resolvia, era preciso remover as raízes e lançar novas sementes ao solo, preparando o terreno para um novo cultivar.

No princípio não houve germinação, o solo estava árido e sem nutrientes, totalmente enfraquecido pelas daninhas, que insistiam em voltar à superfície.

Foi muito difícil esse período, aqueles que não queriam ver minha transformação sorrateiramente tentavam sabotar minha metamorfose implantando novas daninhas em meu cultivo, provocando dúvidas, insegurança e medo às novas plantas. Constantemente era preciso extrair as inserções que apareciam em meus canteiros. Foi um longo tempo de batalhas, ora desanimado, ora esperançoso, até chegar ao estágio atual.

Hoje meu cultivar está viçoso, cheio de vitalidade e livre das ervas danosas, mas como qualquer lavoura, precisa ser cuidada, adubada e irrigada constantemente para não brotarem mais fortes e mais destruidoras.

O saber e o conhecimento são ilimitados. Buscando-os continuamente jamais se tornarão obsoletos e ultrapassados. Hoje sou outra pessoa. Os argumentos danosos das mentes turvas não fertilizam em meu cérebro. Aprendi a conservar o meu plantio fortalecendo e aprimorando as sementes do conhecimento, transformando-as em transgênicas. São resistentes às pragas e mais difíceis de serem combatidas.

Genézio de Abreu Martins
Enviado por Genézio de Abreu Martins em 02/06/2017
Código do texto: T6016066
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