Eu adoro meu sertão

Eu adoro meu sertão querido, porque foi nele que eu começei a cantar repente e tocar viola lá pelos idos de 1974. O sertão é para mim um cenario poético e salutar. O sertanejo é meu irmão no sentimento e na dor e no respeito humano. Cantei trinta anos no meu sertão querido e lá deixei boas amizades, bons amigos, que ainda hoje me respeitam como antes. Há dez anos, deixei de cantar repente, no entanto não esqueci do meu sertão querido e muito menos do seu povo. Quando eu vou ao sertão eu me recordo das noites de cantoria que as realizei quando ainda muito jovem.Cantei em toda região jaguaribana e fui sempre respeitado pelo campesino que ama a viola e o cantador popular. O homem camponês é bem diferente do homem citadino, que gosta muito de arenga e humilhar o sertanejo humilde por não ter estudado, quando na verdade o o homem campesino tem muito mais pudor do que o homem urbano, que só pensa em dinheiro e na política safada. O sertão é ainda o lugar que mantém vergonha em qualquer setor de trabalho e sobretudo o respeito ao seu semelhante, que também sofre como ele o total desprezo da política mercenária e idiota. Meu pai era camponês e minha mãe nasceu numa pequena cidade, contudo foram morar no interior russano, distante sete quilometro da sede deste município. Com trinta e dois anos eu passei a morar na cidade de Russa ainda assim nuncaesqueci o sertão onde encetei a profissão do repente com muitos cantadores e grandes mestres da viola. Eu sinto uma saudade enorme deste sertão autêntico que me ouviu cantar pelo primeira vez quando eu tinha apenas 18 anos de idade. Os nossos governantes dão ao homem campesino o mais total desprezo como se o camponês não fosse nada. Não faço mais repente e nem toco mais viola, contudo o sertão ainda está dentro de mim. O nosso sertão é poético e genial para quem ama o cantador e aplaude a cantoria popular. É no sertão que o repentista faz nome, cantando para o seu povo e o povo o aplaude como merece. Sem o sertão não existiria o cantador e muito menos uma platéia seleta para ouví-lo. O citadino é inimigo da verdade, mormente da arte da viola e do repentista dotado que se faz sem precisar de faculdade.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 05/06/2017
Código do texto: T6019115
Classificação de conteúdo: seguro