Personagens em Números

Convivemos diariamente com os números. Compramos, fazemos troco, pagamos contas dentre outras coisas mais, numa intimidade quase umbilical, mas muitos de nós não refletimos em como eles são simbolicamente. Tenho impressões curiosas sobre eles, acho que têm alguma personalidade e os imagino como se fossem pessoas. Como seriam?

O zero é um injustiçado, um condenado sem chance defesa nem advogado. Pensa-se que ele é somente nulidade, desolação, vazio. Seria um homem gordinho e desengonçado, sofre bullying de quase todo mundo. Mas observem como ele é íntegro, sem quebras ou interrupções, sensato, unificado, irmanado com o Universo. É cerne, núcleo, individualidade, prima pelo valor interior e evolução pessoal, o dentro para fora. Imaginem o dez, o cem e o mil sem o zero, simplesmente não existiriam. Só não pode estar à esquerda, pois daí não vale nada mesmo.

O um dispensa apresentação. Basta olhar para ele, esguio, altivo, valente, e sabe disso. Um vencedor. Vaidoso e convencido, mas vencedor. Simboliza união, vitória, singularidade, pioneirismo, ele é a liderança e todos o desejam ardentemente. Quem não quer ser único e especial, o degrau mais alto do pódio? Eu não conheço. Por outro lado os ególatras e ditadores têm fixação doentia pelo um e fazem tudo (até o altamente condenável) para dominarem a todos.

O dois é simpaticíssimo e diametralmente oposto ao um, seu formato lembra um pato serenamente cuidando somente da sua própria vida enquanto nada no lago. O dois é do bem. É o par, a conciliação, a companhia, o romance, a fidelidade, afinidade e emparelhamento. O dois é um verdadeiro bonachão e politicamente correto. Também o perdão, o desprendimento, o altruísmo. E o que dizer da ponderação da balança com seus dois pratos equilibrados? Importantíssimo! Mas, como nada é perfeito, simboliza também a polaridade e o antagonismo, portanto, encrenca. De qualquer forma o dois tem muito poucos aspectos ruins.

Já o três é chique, cabalístico e esotérico tal qual o sete, mas considero que seja muito mais simpático, vide “Os Três Mosqueteiros” e “Os Três Porquinhos”, os três sobrinhos do Pato Donald, isso é lúdico, não? Está repleto de simbolismo positivo e contém até memória afetiva. Para começar ele representa a tríade Pai, Filho e Espírito Santo como também os três Reis Magos e o tempo da Ressurreição de Cristo, portanto carrega um significado forte pelo menos para os católicos. Se olharmos para o céu veremos a constelação das Três Marias, conteúdo bem poético, reconheçamos. Se o três fosse uma pessoa eu adoraria ser sua amiga e bater longos papos com esse senhor sábio demais.

Para começar, o quatro são dois pares, um grupo de amigos, pois quatro pessoas já formam uma pequena festa bem alegre. Seria um cara bem paciente e bom ouvinte. Observem seu formato de cadeira de perfil (de cabeça para baixo, feito bar em fim de expediente). Ao menos para mim ele é reflexão, repouso (talvez para ler um bom livro, estudar, trabalhar). E o que dizer das quatro estações? É o ciclo da vida renovando-se constantemente, esperança em estado bruto. Tudo passa, o bom e o ruim, tempo de plantar e de colher, esperança de dias melhores. Na numerologia ele quer dizer pés plantados no chão, segurança e equilíbrio, remetendo uma vez mais à cadeira com seus quatro pés no solo). Os quatro elementos (terra, água, fogo e ar) também estão fortemente presentes e nos regem, obviamente para quem acredita. O quatro é gente boa.

Se percebermos detidamente o cinco está exatamente no meio da “fileira” dos números, portanto, é ponderação como o número dois. Seria um cara bastante centrado, bom conselheiro, um irmão ou amigo com a cabeça no lugar para nos dar uns toques. É poderoso talismã sob forma de pentagrama, mágico, ligado ao Cosmo, cabalístico, proteção contra o mal. Leonardo da Vinci o utilizou (posição da cabeça e membros em estrela) dentro de um círculo em sua obra “ O Homem Vitruviano”, simbolizando o ciclo de todas as coisas. Bem misterioso, não? Basta observar a estrela de cinco pontas, que tantos trazem num cordão no pescoço. E os cinco sentidos, o que seria do Homem não fossem os cinco sentidos? Estaríamos perdidos e vulneráveis, totalmente baratinados e não sobreviveríamos. No formato ele se parece com a Letra S, de satisfação, sabedoria, simpatia, saúde, sobrevivência. Como não amar o cinco?

O seis queria ser o nove, e planta até bananeira para isso, mas não é. Baixinho, barrigudinho, ele também é simpático, não há como negar. Mas, agora falando sério, é um hexagrama, presente na Estrela de Davi (que tem tanto simbolismo que não cabe aqui), tão importante para o judaísmo. Deus levou seis dias para criar o mundo, nos ensina a Gênese da Bíblia. Ainda por cima o seis contém seis triângulo unidos, portanto também simboliza o equilíbro como o dois e o cinco. Tem o porém de ser o número da besta, mas isso é lenda e nada é mesmo perfeito. O seis é sortudo! Jogamos dados torcendo para as seis bolinhas caírem de face para cima, não é?

Bem, acho que o sete é polêmico e paradoxal, apesar de bonito. Altivo, esbelto, de bigodinho, mas tem fama de mentiroso. Quando alguém não sabe o que dizer logo diz – Te liguei e tocou sete vezes, depois entrou na caixa postal - ou – Tive sete namorados a minha vida toda – ou – Li sete livros de dezembro a maio - só para exemplificar algumas tentativas de enganar o interlocutor. Sete são os pecados capitais, e, em contraponto, também as notas musicais. Mas como nada é totalmente preto ou branco, yin e yang, o sete também é sacro, representa o descanso (afinal, até Deus descansou no sétimo dia depois de haver criado tudo que existe), portanto nesse pormenor ele tem lá a sua nobreza e muitos fãs, verdadeiros adoradores do sete e o relacionam ao bom agouro. Mas eu acho, como opinião pessoal, que é um número do tipo ame-o ou deixe-o.

O oito, fosse um ser humano, seria um monge budista ou outro líder religioso meditando no alto de uma pedra olhando para a linha do horizonte Ele é ao mesmo tempo nascimento e morte, recomeço, prosperidade e o infinito (na posição vertical), união, enfim, o equilíbrio cósmico e transmutação (veja como é bonito duas alianças juntas). É um elo indispensável para o amparo mútuo e compreensão entre as pessoas, ou seja, ele é fraternidade. O oito é muito meu, é o número de sorte do capricorniano. Ô coisa boa o oito.

O nove é o primo rico do número seis, está de cabeça para cima, enquanto o seis está de cabeça para baixo, pelejando para ser o nove “quando crescer”, (risos). O nove é número de maior valor numérico de todos. Se fosse humano ele seria, na minha imaginação, um ser aéreo, sonhador e paciente, pois vem por último na “linhagem” dos números (seu elemento é o ar). Imaginem a força de um número que é o triplo do três, por si só tão poderoso? Todas as qualidades do três reforçadas! Onde o nove termina o ciclo está fechado e as chances são renovadas, zeradas, portanto não importa em que erramos e o quanto sofremos, depois do nove o número um voltará para escrever uma outra história, uma página em branco novinha em folha. E ter esperança é o que nos sustenta principalmente nos momentos de perrengue. Tem coisa melhor?

Acabou o artigo, noves fora zero...