TOLERÂNCIA ZERO

Quem disse que nos tornamos mais tolerantes e complacentes quando envelhecemos, sem dúvida alguma não sobreviveu para contar história ou se referia a outro tipo de tolerância, talvez a da lactose, por exemplo.

Tudo bem, alguns dirão que 29 anos não é referência do atingimento do amadurecimento necessário, já que o exercício de autoconhecimento é diário e se consolida com o passar dos anos através da ênfase dada para a nossa consciência adormecida na juventude.

Sinto desapontá-los, mas a verdade é que nunca fui jovem. E tenho rezado todos os dias para que com a idade, não me venha uma síndrome de Benjamin Button, porque esse é o tipo de situação que não queremos passar na vida, em qualquer que seja a idade. Brad Pitt está aí e não me deixa mentir.

Mas nessa conta, pode incluir meu avô materno. Quando pequeno me lembro que 20:00 era o horário limite para assistir televisão enquanto estava de férias na casa dele. E não havia argumento, como a minha estadia passageira ou o eterno verão paraense que justificasse uma extensão do entretenimento noturno. E ele já tinha por volta dos seus 64 anos.

Nessa roda, também está meu avô paterno que gritava da sua cadeira de rodas que não ia comer coisa nenhuma, mesmo que isso fosse a sua salvação por mais alguns anos de vida. E não pense que eu me esqueci das vezes em que ele me delatava para o meu pai por não realizar aquele gargarejo sofrido com vinagre, água e sal.

E por falar nele, também contem com meu pai. É só você tentar mostrar a ele que qualquer teoria pré-concebida de organização de louças no escorregador pode (e deve) ser contestada, que já surge a discórdia e oportunidade de um debate polêmico em algum programa sensacionalista familiar na TV.

Mas antes que a minha vida vire um livro totalmente aberto e que essa crônica fuja do seu propósito inicial, vamos nos ater ao genérico. A falta de tolerância é tanta que um pisão não intencional ou um olhar um pouco mais prolongado, por alguém que talvez seja míope ou caolho no transporte público já vira motivo de afronta e provocação.

O maior índice de racismo e resistência contra a legalização da união estável entre pessoas do mesmo sexo provem da chamada melhor idade. E isso acaba se refletindo ao contrário quando analisamos a postura que o mercado de trabalho assume contra pessoas acima dos 40. Ou seja, intolerância gera mais intolerância, mesmo assim a chamada experiência de vida continua sendo cortejada como uma verdade absoluta que deve ser reverenciada sem nenhum tipo de questionamento. Respeita os mais velhos, lembra?

Acontece que por conta disso, Marvin Gaye, Michael Jackson, Amy Winehouse, Whitney Houston, Judy Garland e tantas outras histórias que não tomamos conhecimento, possuem um desfecho envolvendo tragédia familiar devido ao controle assumido por pessoas “experientes” em suas vidas.

Devemos encarar os anos que vivemos sempre como lucro em nosso fluxo de caixa. Essa arrogância em achar que o acúmulo de idade nos torna maduros em alguma coisa ainda vai nos levar a cair verdes do pé da vida muitas vezes e apodrecer.