Ela conhecia o mundo

Em um bar qualquer em Wellington, reencontrei um amigo de caminhada de muito tempo. Entre um chopp aqui e um chopp ali, a moça que servia nossa mesa me perguntou se eu falava português. Respondi que sim e que notoriamente ela era italiana. Que provavelmente conseguia até entender parte do que eu falava. Ela riu e disse que sim. Especialmente a parte em que comentei com meu amigo que ela tinha um belo sorriso, disse ela rindo.

Quando deixei o bar, entre uma conversa e outra, escrevi um bilhete em um guardanapo. simples. "Grazie" e meu telefone.

Havia uma mensagem no dia seguinte. Após alguma rápida conversa, convidei-a para sairmos. Para a minha surpresa, ela responde:

- Quão bom você é em sinuca?

- Péssimo - Respondi. E de fato, o divertido da noite foi ela me arrasar na partida. Não na sinuca apenas mas em sua forma de ver o mundo.

Ela pensou que eu era novo.

- Você nem tem idéia com o que está se metendo. Eu vou te poupar de tudo por que você é novo. E mesmo que fosse velho não ia entender.

De fato, a genética é boa, mas eu não sou tão novo. Apenas quando mostrei meus documentos é que ela acreditou. Eu era apenas 4 anos mais novo, veja só. O que nos torna ambos em quase meia-idade.

Aquela mulher me intrigou. Havia rodado o mundo, conhecido muita gente e e me deu muitos conselhos sobre o comportamento humano.

De certa forma, ela não se abria comigo 100%. Não criamos nenhum relacionamento com nomes. E ambos se viam quando queriam. Nenhuma pergunta sobre o que fazíamos sozinhos era dirigida. Gostávamos das coisas simples. Sentar-se na praia dividindo uma pizza de 5 dólares, subir o mirante do mount victoria com um café na mão.

A confiança entre nós cresceu. Em um ponto, em que ela me revelou uma outra parte de sua vida e escolhas. Para a surpresa dela, eu dei de ombros. Nada entre nós mudou. Acima de tudo, eu tinha uma admiração por uma grande amiga. Ela ficou impressionada. Em um mundo normal, tudo se tornaria julgamento. Mas não comigo. Nunca comigo.

Em algumas situações, fui convidado a sentar-se á mesa com um dos supostos amigos dela. Demos o nome de "supostos amigos" para aquele tipo de gente em que ela tinha que manter contato. Figurão de um banco importante da Nova Zelândia, me ofereceu um charuto e um conhaque. Disse que queria muito me conhecer. Amigo do presidente da minha empresa. "your lucky bastard", dizia ele sobre meu relacionamento com ela. "Cuide dela, hein?"

O fato é que nada mudou sobre como ela optou por viver a vida dela. Pois, como dito, é a vida dela. E agora eu sabia por qual razão ela conhecia tanto sobre as pessoas. e Por qual razão julgava a sí mesma muito complicada para ter um relacionamento. E por qual razão muitas vezes ela só queria um abraço amigo.

Eu não preciso pensar como a sociedade de pensa. E de fato, nunca pensei. Apenas olhei pra ela antes de partir daquele país e disse o que eu sempre dizia. Você é uma mulher incrível.

Marcello Morettoni
Enviado por Marcello Morettoni em 14/06/2017
Reeditado em 14/06/2017
Código do texto: T6026933
Classificação de conteúdo: seguro