Somos " condenados " a liberdade

LIBERDADE

( a utopia dos escravos)

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Em certo dia, o meu professor de gnoseologia convidou-me a fazer uma comunicação sobre o tema:

LIBERDADE.

Segue-se:

Somos livres? Eis a questão. A liberdade implica arbitrariedade total e isenção de qualquer ordem extrínseca. A liberdade, implica apropriar-se da vida na sua totalidade, ter controlo total sobre a mesma. De facto ente terráqueo algum, tem a vida como exclusivamente sua. A noção dos implícitos e misteriosos caminhos que nos levam as formas de existência pelas quais nos conhecemos, acompanha-nos todos os dias. A impossibilidade de controla-la na totalidade é uma factualidade.

Ninguém é capaz de fazer o seu próprio caminho de forma incondicional. Pois, os caminhos que nos deram a escolher, estão já predefinidos. ( não confundir com a teoria da predestinação, esta seria outra abordagem, que curiosamente não é por cá chamada)

Fazer escolhas não implica liberdade; pois se escolhemos, é porque já lá estão dados os caminhos. Poderíamos simplesmente escolher não escolher. A vida nos tem mostrado que sempre os humanos devem fazer escolhas. Escolher não escolher, é como que parar o relógio biológico do tempo.

Se assim não fosse. Teríamos a capacidade de querer e fazer simplesmente existir como um ente que não seja necessariamente um ente humano. Poderíamos querer existir como grão de areia. Mas não. Nascemos seres humanos. Nada podemos fazer para alterar este facto. Isto nos foi imposto. Está fora do nosso controlo.

Porque? ( perguntei e a audiencia silenciou-se). Não temos respostas para todas as questões.

Poderíamos decidir quem seriam os nossos pais. Mas não. Não temos a capacidade de mudar o facto de os nossos país serem os nossos pais. Talvez poderíamos escolher a cor da nossa pele. Eu por exemplo, apreciava ser cinzento. Isso de ser negro, faz com que haja um diferencial que encerra uma das doutrinas mais estupidas que os seres humanos inventaram. O racismo. ( não confundir tal declaração com ausência de auto estima)

Poderíamos controlar a nossa circulação sanguínea, decidir para que veias o sangue circular. Sentir as operações da nossa estrutura neural. Evitar a dor ou a alegria. Prova-se que os hormônios falam sempre mais alto do que a nossa razão.

Somos obrigados a aturar a eterna icognita relativa à morte e a hora em que a mesma nos chega a porta físico- existencial. Poderíamos escolher deliberadamente o dia da nossa morte e nascimento. A normalidade do factos obriga-nos a viver com isto todos dias sem nada fazermos para alterar o quadro. Não sabemos quando nascemos tão pouco quando falecemos. Estamos condenados a obedecer leis que transcendem as nossas competências enquanto seres existentes.

À religião, traçou para depois da morte, dois destinos infalíveis para os que acreditam. De facto podemos optar por um destes caminhos. Não podemos criar Outro. E quem o cria fá-lo no âmbito de uma probabilidade banhada com o arquétipo da incerteza. Mesmo os agnósticos sabem que a morte lhes chegará a porta algum dia.

Oh! pudera não soubessem. Relegando-os esta factualidade para o desconfortável mundo das probabilidades. Existir é uma probabilidade. Podemos controlar o hoje. Mas o amanhã, é uma incógnita absoluta. Temos portanto que aceitar o facto. E conviver com este todos os dias. Se somos livres do ódio, somos escravos do amor, vice-versa. Dai que talvez terá dito o crucificado: o meu jugo é suave. Experimentamos instantes absolutos de liberdade, mas nunca experimentamos liberdade absoluta.

A política prega a ideia do voto livre. Mas votar não é liberdade. É escolha. Decidir votar é acto livre. Entretanto, o facto de termos votado não faz de nós entes livres. Porque estão lá já os candidatos definidos. Por isso, a democracia não passa de uma forma de escravidão pacífica. Porque há alguém no poder que domina os demais.

Mesmo os que se auto-proclamaram livres, não passam de escravos da liberdade. Logo não são livres a partida. Pois, a própria definição os incrimina, dados, o facto de serem reféns de uma ideia sem respaldo na praticidade dos factos.

Já agora, haverá um Deus enquanto existirem incógnitas. A liberdade para nós é uma condenação. A tautilogia da questão revela-se pela mesma ironia. Porque ao que parece, até dela somos escravos.

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A base da minha abordagem foi Emanuel Kant: "conhecemos o mundo tal como o é para nós. Não conhecemo-lo entretanto como o é em si ".

Podemos pensar com liberdade; mas isto não faz de nós livres de pensamento.

Duarte Ombeu.

Duarte Ombeu
Enviado por Duarte Ombeu em 20/06/2017
Código do texto: T6032189
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