DIA DOS PAIS

DIA DOS PAIS

“Dê um vivo de presente para seu pai”. Estava desligando a televisão, quando vi esse comercial, faltavam alguns dias para a data de hoje e me dei conta que este ano, pela primeira vez, não teria ninguém para dá um presente, para ligar, dá um alô, dizer o quanto eu te amo. No dia 06 de maio, um domingo, o telefone toca lá em casa, quase meia-noite, até pensei que fossem uns amigos que tinham se mudado para Manaus e ainda não tinham habituado-se ao fuso-horário, mas quando a minha esposa fala o nome da minha prima e pede para eu sentar, já sabia o que era. Não sei bem o que senti, no momento não chorei, mantive a calma por algum tempo, depois sentei no sofá chorei, não tinha mais meu pai, chorei relembrando de tudo. Chorei com saudades de meu pai.

Passei muito tempo fora da minha cidade, voltei, hoje estou fora de novo. Quando estava em Fortaleza, fazia questão de estar nesse dia junto com o seu Joaquim, levar seu presente, mesmo que nos últimos anos ele já não mais conversava, os movimentos ficaram difíceis, mas para mim ele sempre seria aquele homem forte que brincava de luta comigo quando chegava do trabalho, a quem eu falava dos gols que fazia nas peladas de criança. Mas mesmo de longe, nunca um Domingo dos Pais passou sem que eu ligasse para ele e dissesse: eu te amo, pois sei que mesmo em silêncio ele também dizia o mesmo.

Eu sempre fui daqueles que bastava entrar em um avião, em um ônibus, em um carro quando não estava dirigindo para viajar, que já começava a dormir. Mas naquele 07 de maio foi diferente, aquela viagem para Fortaleza não tinha nada de feliz, como as outras, daquela vez estava viajando para me despedir do seu Joaquim, ainda bem que as poltronas ao meu lado estavam vazias, eu poderia chorar à vontade. Não sabia se queria que aquela viagem terminasse logo ou que demorasse muito para adiar ao máximo aquele encontro, mais uma vez o filme passando, lembrando daquele homem que me levou ao estádio a primeira vez, ensinou-me a torcer Ceará, lembrei de nossas idas aos parques de diversões, circo, lembrei daquele homem que nunca levantou a mão para bater em mim, que eu só vi uma vez batendo no meu irmão, mas que jamais deixamos de respeitar, de pedir a benção toda vez que o víamos, de amarmos.

Enfim, o vôo chegou, meu tio já me esperava, recebi o primeiro abraço, no caminho para a casa, tentávamos conversar sobre outros assuntos, disfarçar a tristeza que ambos sentíamos. Mais uma vez não sei se queria chegar em casa, naquela rua, que vivi a minha infância, que chutei bola com meu velho. Agora não teria mais bola, não teria mais passeios, seria o último encontro, ao menos aqui na terra. Recebo os abraços dos meus irmãos e vou enfrentar aquele momento que nenhum filho quer, se despedir para sempre daquele que foi sua referência, seu apoio, daquele que você perdia o medo quando ele estava em casa.

Fiquei ali em pé, me despedindo, falando com ele, o filme passando novamente, tocando-o, beijando-o, dizendo que o amava, ainda bem que eu aprendi a dizer que o amava antes dele partir. Novamente desabei a chorar, tinha perdido meu pai, o seu Joaquim, o homem que dizia muito, mesmo falando pouco, do sorriso bonito, sempre elegante, enquanto Deus permitiu.

Vou lembrar sempre do seu sorriso, quando me chamava carinhosamente de “nego”, das vezes que fazia aquelas comidas maravilhosas, dele saindo cedo para trabalhar, enfim, acho que nem vou lembrar dele, pois a gente lembra de quem esquece, e do seu Joaquim, eu nunca vou esquecer.