As pernas mais bonitas da minha adolescência

No auge de minha adolescência, passaram por minhas vistas o par de pernas mais bonito daquela época. Era início de noite ou fim de tarde, da luz não me recordo bem. Aquele par de pernas tinha dono, uma pessoa que não troquei sequer meia dúzia de palavras, eu só conhecia as Pernas. Decorreu-se um tempo e aos poucos fui consumido pelo sentimento de ter aquelas coxas e panturrilhas, ao passo que lutava contra esse desejo, por estar no campo das coisas inconcebíveis, acreditava no minguar daquele sol, que um dia as possuiria.

Toda paixão quando acontece embriagada por hormônios é uma dívida paga a Deus e o recibo são as lembranças com eventuais risadas anos mais tarde.

É com recibo em mãos que constato como o mundo é engraçado, ele ri, mas ninguém vê. Só depois ficamos a lidar com o eco das gargalhadas, e só por não saber o que fazer, rimos de volta.

Porém convenhamos, não existe essa história de um homem cair de paixão por um par de pernas, não passa no jornal e pernas não falam. Mas precisamos reconsiderar quando se tem 15 anos e se vive sob a repressão sexual do interior mineiro. Pernas são proibidas. Sentir o peso delas sobre o seu corpo é o pecado, passível de constrangimento no confessionário com algum idoso a te escutar, e quem sabe rir, talvez odiar, ou até mesmo algo mais.

Por fim amei um par de pernas tão perdidamente quanto se ama alguém que pensa. Fui o único que se teve notícia, no árido deserto da homofobia.