Uma manhã gostosa de sol combinada com friozinho de outono.
E vem de longe por uma rua de Mogi das Cruzes, 
um som rangendo e extasiando.
As crianças se agarram aos pescoços dos pais.
As mulheres se afastam.
Os homens mais jovens tremem mas permanecem calados.
Os mais velhos, já saudosos, se arrepiam maravilhados.
É o velho carro de bois, na festa do Divino.
São 4 parelhas. Chifrudos. Assustadores.
Os cães vadios ladram. Não sabem se correm ou ficam.
Mais parece uma invasão de alienígenas dos filmes de ficção.
À frente, um franzino, doce e simples homem.
Na mão, uma vara de madeira banal com uma argola na ponta e aço no final.
Com um movimento leve, ele toca um lado da canga e aqueles enormes animais se movimentam com a leveza de uma bailarina, ora para um lado, ora para o outro.
Um toque diferente na canga, e eles param. Estáticos. Silenciosos.
Só aquela imensa língua lambendo as narinas e olhos arregalados, procurando o tocador.
Não importa o som da viola, o pipocar dos fogos, as buzinas, os gritos....
Nada importa para eles...
Só atendem ao toque na canga.
Daí, eu fico imaginando porque nós, frágeis e cultos, às vezes com curso superior, com viagens pelo exterior, não decodificamos os sutis toque que a vida nos dá?
Porque não obedecemos aos toques em nossa canga da vida?
O que nos faz ignorar uma lágrima do parceiro...
Um olhar mais triste...
Uma musica que emociona...
Uma noite sem dormir...
Porque nós não cedemos aos toques do amor?
Acredito que ficarão menores os nossos fardos a carregar.
Ficarão mais leves nossos carros de bois que puxamos pela vida
Acredito que ficaremos maiores se aprendermos a amar.
 
 
 
Augusto Servano Rodrigues
Enviado por Augusto Servano Rodrigues em 13/08/2007
Reeditado em 02/10/2007
Código do texto: T605708
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