Um eco no espaço

Um pandeiro, um acorde, um urro, sussurro. O canto belo e doce, triste e belo, novo e triste, e aquela paisagem sem fim nem começo, que insiste em ser indecifrável. Um rádio, uma onda que se perdeu no mar negro e sem ondas do espaço.

Ros 128, um nome que em nada lembra o de uma estrela, se é que estrelas tenham um tipo de nome, se é que nomes devem lembrar algo. Estrelas sem cinco nem seis pontas, sem brilhos e sorrisos, sem fofuras nem formas, estrelas. Objetos que lá estão, longe, muito longe, até mesmo de meus pensamentos.

Ros 128, sinais de rádio, sons. Já faz décadas que o homem se prepara para encontrar sinais extraterrestres, livres dessa coisa telúrica que nos cerca, desse ar humano, com traços humanos e pensamentos, nem sempre, humanos. E agora, lá longe, nessa estrela de brilho e medidas espaciais, com seus nomes e significados mais difíceis do que a ideia de um espaço sem tamanho, agora chegam esses sinais de rádio.

Será uma marchinha, um mambo, o funk carioca, o soul de Tony Bizarro, o choro sampleado de um bebê triste e desamparado, o que será? Acordes de Chopin, a lua branca de Chiquinha, uma notícia sobre o fim dos tempos, um dedilhado de Baden, Gaga e suas invenções, Bjork e suas intervenções, Justin? Baby, baby, ooohhh, o que terá sido esse som de rádio? O que será esse som de rádio que ecoou na galáxia imponente e mansa?

A pesquisa vai continuar e enquanto isso, em algum lugar desse nosso mundo grande haverá alguém com um radinho na mão, antena erguida, tentando captar as ondas da vida, aquelas que ainda não se submeteram ao crivo do inevitável fim. E vai escutar, e vai vibrar, e vai aproximar bem o radinho de pilha em seus ouvidos para captar o som da vida. Uma lágrima cristalina e boba irá escorrer por seu rosto humano e saberá que outro alguém, em outro lugar, longe ou não, estará escutando aquele mesmo som, o som do radinho de pilha.