Alheiras de Mirandela...


(Uma Crônica de Silvino Dos Santos Potêncio
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil)
 

Enfim!... o Xô Presidente foi a Trás os Montes e descobriu lá que a culpa disto tudo é dos Sefarditas!, dos Judeus!, dos Jesuítas!...é dos Marranos e dos  Ciganos e até parece que o PM (leia-se : Primo Monhê) também está por trás disto tudo. 
Mas,… para mal dos nossos pecados em Tras Os Montes e Alto Douro,   os maiores suspeitos são os Fabricantes de Alheiras. 
A justificativa para esta análise já vem de longe e por isso vos trago aqui a história das Alheiras de Mirandela que, na verdade,  eram e ainda são feitas nas Aldeias pelos Cristãos Novos  com muito esmero!( naquele tempo da Inquisição).
O facto  é que os Cristãos Velhos, nos dias de hoje já nem conseguem ir ó “sequeiro” para trazer uns gravetos ou até uns “CAVACOS” da silva pra fazer o lume e... sem lume, não há fogo! 
Se não há fogo, também não há fumo!. 
Por fim todos nós sabemos que, sem fumo não há Fumeiro. Portanto a conclusão do Conselho de Estado (lastimável em que se encontra o Portugal Profundo) é com certeza, culpa dos fabricantes de Alheiras!.

A origem das Alheiras: 
Segundo a tradição, este enchido terá sido criado por Cristãos Novos que, em segredo, continuavam a guardar costumes da sua renegada religião Judaica, a fim de dar a entender a toda a sociedade que eram Cristãos assumidos e bem integrados. 
Como o judaísmo proíbe o consumo da carne de porco, alguns dos supostamente recém convertidos teriam inventado um chouriço onde discretamente a carne de ave substituía a carne de porco, tradicional entre os cristãos. 
Desta forma, nas primeiras alheiras foram usadas várias carnes alternativas ao porco, tais como peru, galinha e outras aves.
Esta suposta ligação com os Cristãos Novos talvez não passe de uma ideia romântica popular, sendo que não há factos concludentes que a suportem. 
Parece mais certo que o seu aparecimento esteja ligado ao próprio ciclo de produção de fumeiros caseiros, ou simplesmente à necessidade de conservação das carnes dos diversos animais criados e para consumo próprio.
Na região de origem a norte de Portugal (Trás-os-Montes) a alheira é consumida grelhada, ou assada em lume brando, acompanhada por batata cozida com um fio de azeite, e legumes da época variados. 
Mais a sul o mais natural é encontrar os menus com a alheira frita, batatas fritas, ovo estrelado e saladas de alface e tomate. Por vezes, é também acompanhada por grelos de couve ou de nabiça. 
É uma presença habitual nas ementas dos restaurantes de todo o país.

A mais famosa das alheiras é a oriunda de Mirandela, na região de Trás-os-Montes, frequentemente considerada a de melhor qualidade, tendo sido nomeada uma das 7 Maravilhas da Gastronomia de Portugal.
No entanto também esta é uma origem da qual o fundamento é duvidoso. 
Apenas recentemente se fabricam alheiras em Mirandela e em unidades industriais. O que é normal, pois a Alheira é típica do frio e da Terra Fria, sendo que Mirandela fica na Terra Quente.

Assim como o Vinho do Porto é do Douro e o Porto era apenas o entreposto de estadia e embarque para outras paragens e mercados, assim as alheiras chegavam a Mirandela provindas das regiões mais remotas e interiores de Trás os Montes para aí serem depois comercializadas ou embarcadas em comboio para o Porto, sobretudo, e daí para o resto do país. 
As alheiras "genuínas" sempre vieram da raia norte (Vinhais) e da raia Mirandesa, sendo as primeiras e as segundas algo distintas quanto ao sabor e quantidade de fumeiro que levam.
Por tradição, os fumeiros da Raia Norte levam mais fumo e mais vinho e alho do que os fumeiros da Raia Mirandesa, mais suaves e menos temperados.
Actualmente a produção de alheiras em Mirandela é um negócio Industrial.  Quem quiser provar alheiras mais próximas do seu estado "original" e da sua essência, terá de o fazer em alguma das aldeias da Raia Norte (Bragança) ou Raia Mirandesa (Miranda do Douro).
Porém, as alheiras extrapolam actualmente o território Transmontano e produzem-se em muito mais regiões do país, e até no Estrangeiro aonde haja grandes comunidades de Emigrantes Portugueses.
Por ultimo vale lembrar que Desde 1996 que este enchido tem proteção de Especialidade Tradicional Garantida (ETG).
O novo estatuto foi autorizado pela Comissão Europeia e confirmado pelo Governo português no despacho do secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Gomes da Silva, publicado a 3 de julho 2013 em Diário da República.
A partir de Julho de 2013, a Alheira de Mirandela só pode ser produzida no Concelho de origem, uma ambição antiga dos produtores locais que se concretiza com a atribuição de Indicação Geográfica Protegida ao enchido tradicional.
No entanto a atribuição de IGP não foi registada ao nível da União Europeia, tendo o seu processo sido apresentado a 10 de março de 2011. Por este motivo da rotulagem dos produtos apenas pode constar a menção "Alheira de Mirandela IG".

A Alheira de Mirandela foi reconhecida como uma das 7 Maravilhas de Portugal - Gastronomia Portuguesa,  na categoria de Entrada, em setembro de 2011.
Deixo-vos uma quadra extraída do Meu Livro “Curriças de Caravelas –Trovas Comentadas” :

Gosto de alheiras e grelos, 
  Com batatas cozidas e azeite!...  
    E um bom vinho bem singelo, 

     Pois comer faz bem!,...  é um deleite!

Silvino Dos Santos Potêncio
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil – Julho/2017

 



 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 27/07/2017
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