Confissão de Um Crime

Ser escritor é ser um ladrão.

Nós roubamos as mais variadas coisas; cada sensação que alguém nos presenteou, o sorriso que nos é dado e até o sentimento a um toque inesperado. Quem nos cerca, sem que percebam, são furtados. Fazemos deles nossos guias para o escrito, estripamos cada traço que há naquelas faces e os tornamos nossa poesia.

Roubamos e gostamos de fazê-lo. Se não o fizéssemos, nada teríamos para pôr nas folhas. Vivemos de sentir e de experimentar. Jogamo-nos no mundo com gosto, pois só assim poderemos furtar. Roubo porque é meu vício; vivo e me dou o direito de transformar esse viver em minha fala.

A cleptomania não é uma escolha, nos é imposta. Nossos sentidos se tornam gradualmente mais aguçados. O tato fica mais sensível, só assim podendo descrever o toque mais sutil. A visão se amplifica, atentando para qualquer movimento, pois os detalhes são belos de serem engradecidos. O paladar se apruma, o gosto do outro precisa ser bem acentuado. Nossas sensações são nossas armas; são com elas que ladroamos.

Quem é escritor, sente e escreve, pois às vezes é unicamente o que podemos fazer; sentir o que um dia todos já sentiram, mas jamais perceberam o suficiente.