Filho, saiba;

Eu não tinha noção do que tu me serias até te olhar em meus braços.

Havia o nervosismo, um êxtase em acabar com aquele procedimento estressante; ouvi o choro que me era desconhecido. Até que tu me foste apresentado, daí eu percebi que não estavas mais dentro do meu corpo, eu já não era mais o teu lar. Tampouco tu eras uma extensão minha. Eras apenas tu, com teus olhinhos pretos abrindo e fechando, parecendo estranhar aquele mundo que te foi imposto. Tu eras um desconhecido para mim, assim como eu era para tu, mas aquilo não era importante para nós. Eu senti, naquele desprezível segundo que te conheci pela primeira vez, que tu não eras meu; eu que seria tua.

Todos diziam que tu eras um acidente, um erro. Mas nas madrugadas antes de tu chegastes, quando eu pensava nesses dizeres das pessoas, discordava; aquelas palavras eram cruéis em demasia. Ali, com tu comigo, tive certeza; acidente era um adjetivo mentiroso para definir aquele teu sorriso. Não eras um erro, e nunca haveria de ser; jamais eu, em minha imperfeição diária, havia acertado tanto como naquela vez, quando escolhi te conhecer.

Com tu em meus braços, encontrando no teu olhar o meu reflexo, vi todas as minhas preocupações, sonhos e sentimentos se transferirem para uma única pessoa. Era coisa demais para alguém tão pequeno.

Não haveria decisão alguma que eu acatasse sem pensar no que tu sentirias. Até nas coisas mais banais eu iria hesitar e refletir em ti. Iria pensar até mesmo antes de pedir um café com leite, indagar-me se tu irias gostar de compartilhar daquilo comigo. Veria coisas ao andar na rua e saberia que tu sorririas ao se deparar com elas. Eu tentaria te dar o mundo se me fosse pedido. Minha função seria a tua alegria. Se em uma noite agitada tu não conseguisses pegar no sono, eu lhe faria companhia até o dia seguinte; se não quisesse dormir, eu não pensaria em dobro; conversaríamos madrugada a dentro. Eu lhe escreveria histórias, fábulas criadas sob medida aos teus sonhos. Elas seriam o meu presente para ti. Eu poderia não ter teu sorriso nos inícios, mas eu lutaria para que eles fossem o meu fim.

Não te amei naquele primeiro instante somente porque me faria companhia, tampouco apenas porque diziam que eu era tua mãe e tu o meu filho. Não, tudo isso seria egoísta e simplório demais. Amei-te porque soube que, dali em diante, eu era tua. Amei-te porque eu queria te conhecer. Amei-te porque compreendi, naquele instante em que te tive pela primeira vez, a certeza que era estar disposta a tentar de tudo por alguém.

Tu não me pertences, és do mundo e eu também sou. Assim, jogados, tento não criar expectativas sobre o que seremos. A única convicção que tenho é que farei do impossível para que saiba que foi amado desde aquele primeiro segundo de existência no mundo.