GUARDADO A SETE CHAVES

Em algum momento já interrompemos o que estávamos fazendo e depreendemos que temos que batalhar por algo até o fim. Que todo o esforço será necessário para se chegar ao triunfo ou à conquista final. E dessa maneira, nossa mente e nosso corpo primeiramente já principiam a preparação para que possamos talhar tudo o que será imperioso para se alcançar o remate pretendido. À vista disso conjecturamos formas, meios e estratégias. Buscamos então todo tipo de procedimento para que não caiamos nas armadilhas que podem, por alguns instantes, nos enfraquecer. Verificamos ideias, analisamos o caminho, nos abrigamos antes para que não sejamos surpreendidos pelas adversidades alheias à nossa vontade. Ademais percebemos que para ir em frente é indispensável apresentar a armas essenciais ao combate, mas também é de suma importância o treinamento, a força, a inteligência e a sabedoria. Não menos importante, a experiência, nos presta um grande favor para que não tombemos em tentações ou em buracos e trincheiras escondidas no campo de batalha. Apreende-se que é vital a técnica, a tática, bem como empunharmos valores, princípios e virtudes, como audácia, coragem, persistência e serenidade.

Por conseguinte, inferimos ainda que temos que agir com um escudo reforçado e com um apoio indissolúvel. É imperativo o envolvimento com os que estão conosco, que estão do nosso lado e querem lutar também por nós. Por outro lado deve haver a perspicácia, pois existem aqueles que se fazem de aliados, no entanto deveriam estar em lados opostos. O respirar compassado e profundo, quando algo planejado não teve o seu desfecho final como aguardado se torna alento. Afinal nem tudo depende apenas de nós, de nossa cabeça de nosso coração. O universo é para todos e para tudo há um momento certeiro. Todavia, determinadamente, haverá o tempo em que vamos chegar ao fim e alcançar o intento. Que vibraremos tanto, que choraremos de emoção, que, invariavelmente, nosso cérebro estará “rodando o filme” de tudo o que fora permeado para que aquele derradeiro tivesse o fruto amadurecido. Foram anos de dedicação, horas, dias e noites de sono perdido. Imagens de que às vezes parecia que tudo estava conspirando ao contrário, mas naquela hora voltamos a nós e entendemos que foi a oportunidade de cessar um instante, repensar a estratégia para voltar ao espaço com força total. Naquela hora além disso foi intrínseco que mesmo que a noite tenha chegado, que a escuridão tenha sido um estorvo, como em um estalar de dedos, em uma visão epifânica pode-se, mesmo assim, vivenciar com antecedência que a vitória estava próxima. Que as imagens e as ações foram criadas e traçadas mentalmente, construindo virtualmente tudo o que se daria no final da estrada.

É chegada a hora! A medalha está no peito! O troféu em vibração está levantado com toda a equipe. O sucesso é albergado e apropriado de maneira célebre! E o que fazer daqui para frente? Você vai se encher com toda essa glória e tomar tudo para si, como se nada mais existisse? Que somente aquela vitória fosse sua e de mais ninguém? Que de forma individualista, egocêntrica, tenderá a dizer que tudo foi obra apenas de seus esforços; que aquilo lhe representará mais do que você mesmo perante os outros? Pois é assim que alguns se sentem diante de fases e situações vivenciadas nesse alinhamento. Lutam até o fim e quando se vangloriam, há a uma inexata compreensão de que o que se assenhorou é somente daquele que o possui. Que ele não dependeu de ninguém para isso. Que foi feito tudo de forma singular e ele fez tudo sozinho, sem auxílio de ninguém. Que de forma mesquinha, tudo aquilo foi feito somente para si! Esta forma estranha de se interpretar o apoderamento, pode ser considerada como uma das fases do amor que é desenhada e conceituada também como “amor philia” que fora retratado pelo filósofo grego Aristóteles, como um sentimento de posse, egocêntrico ou até egoísta.

E quantos de nós não somos assim? Nos embrenhamos profundamente na vontade e no desejo, na busca incessante, contudo quando se aborda ao valor final, apenas ostentamos o que queríamos, mas após aquelas horas de contemplação e externação, de ter se provado que era possível chegar ao final com êxito, saímos de cena, colocamos o troféu embaixo do braço e infantilmente ou como algumas mães no estado puerperal no sentimento de posse de seu bebê, compreendemos que ninguém deve participar daquilo ou ter acesso ao que é nosso; tudo é guardado a sete chaves para que ninguém tenha a mínima possibilidade de tocar ou de refletir sobre aquilo. Bem o amor deve ser puro, ele deve ser vivido em comunhão, ou em compartilhamento com todos que nos envolvem? Tudo serve para podermos refletir e direcionar as nossas vidas com mais segurança, mais sensibilidade e compreendermos melhor os sentimentos e atitudes humanas que às vezes nos deixam com a pulga atrás da orelha, pois cada um é dono de si e deve saber o que é melhor para si.

Michael Stephan
Enviado por Michael Stephan em 06/08/2017
Reeditado em 06/08/2017
Código do texto: T6075787
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