O Caderno de Desenho

Vi o por do sol hoje. De presente, um esplendor de cores, as nuvens me fizeram um mapa. Sempre que experimento esse espetáculo, me vejo em meio aos esboços na projeção. Senti saudades do meu caderno de desenho com capa vermelha. Faz tempo que não rabisco coisas.

Talvez a inspiração esteja me apertando a mão novamente. Acho que foi o sol... Ele me contou num diálogo que só o pensamento ouviu. Pensei como seria conversar com meus traços esdrúxulos. Num monólogo silencioso arrisquei um desabafo:

Querido caderno, não sei como você se perdeu com o tempo, me sinto como aquelas páginas rascunhadas, na tentativa de produzir uma obra considerada quase acabada. Elas nunca foram finalizadas. Hoje, ao mirar às nuvens, li que desenhos e pessoas serão sempre rabiscos inacabados, mutáveis e de contrastes impressionantes. Talvez volte a usar meus saudosos lápis de cores aquareladas, talvez finalize temporariamente um daqueles desenhos. Talvez inicie uma nova forma, talvez modifique traços desengonçados. A única certeza que senti é que os finais são quase sempre cercados de começos amenos. Mas terminar mesmo, eles nunca terminam. As cores me fazem pensar num por do sol mais reticente. Porque a vida incide em continuar, embora exploda todos os dias numa tabuleta borrada em forma de rascunho, aos poucos, penso que pode ser transformada em estilo, cores e moldes infinitamente diferentes.

Rita Vilas Boas
Enviado por Rita Vilas Boas em 06/08/2017
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