Assim Seja!

Ato nº 01

Tudo foi muito rápido e se houvesse alguma dúvida, o tempo não permitiria que surgisse.

O encontro foi marcado em um local imparcial, assim, além do vai e vem dos carros e das pessoas, passariam desapercebidos e incólumes.

Conheceram-se num site de relacionamento. Eles ainda eram desconhecidos. Passaram alguns dias se comunicando por mensagens e entre tantas correspondências, deixavam escapar lamúrias, verdades, opiniões e desejos.

Apesar da curiosidade e da vontade avassaladora de cruzarem os olhos e escutarem suas vozes, negavam isso. Sob a névoa de se conhecerem mais, sem interferência das aparências, desconversavam quando o assunto caminhava ao encontro.

O desejo, que os amedrontava ficava declarado nas entrelinhas, na interpretação das palavras soltas e por vezes desconexas. Então, resolveram marcar o fatídico encontro. Não havia consenso do dia e de certo o medo já os rondava, medo de encontrar algo diferente daquilo que imaginavam, medo de encontrar a realidade da imperfeição.

Esse é o mundo, que faz da expectativa uma verdade.

Era o dia do encontro. As horas não passam.... Cada avanço do relógio em direção a hora marcada maximizava as dúvidas e minimizava a coragem em vê-la....

O corpo fala....

Ato nº 02

Finalmente os olhos se cruzaram e pôr como um milagre, a angústia deu lugar a alegria e a eloquência do sorriso. Que obra divina essa de Deus quando nos deu o direito ao livre arbítrio... o poder da escolha ou da angústia, de não ter vivido a vida que não escolhemos... Seria melhor do outro jeito? Nunca saberemos!

Naquele momento a escolha foi certa. Eu quero viver esse momento.... Eu desejo, que ele não termine.

Uma avalanche de assuntos vem à tona. O silêncio, quando vem, provoca.

Os olhos não param a procura de respostas, eu queria olhar e não comparar os sorrisos, não buscar desesperadamente um sinal ao seu toque em minha pele, não ficar tentando transformar a cor de seus cabelos... queria ser capaz de sorrir sem esforço e de ficar em silêncio, sem sofrer buscando desesperadamente algo para cortar a tensão.

Queria sentir o impulso de me jogar em seus braços e preenche-la de beijos ao primeiro sinal de sua presença, sentir vontade de ligar pela manhã apenas para ouvir sua voz ainda inebriada de sono e ao fechar os olhos sonhar contigo, onde for.

Ato nº3

Por que as vezes amamos quem não nos corresponde?

De acordo com Mário de Andrade, amar é realmente um verbo intransitivo.

Só entende a dor de um amor não correspondido quem bebeu da taça da rejeição até a última gota. Sorvi dessa taça. O sabor é amargo, contudo fortalecedor, uma espécie de fortificante, de gosto duvidoso, mas de efeito visivelmente positivo para o restante da vida. Sofrer uma rejeição é lição prática de autossuficiência emocional, garante imunidade contra decepções futuras, para quem sobrevive….

Bebi dessa taça e não me orgulho disso, pois sobrou aquilo que realmente mata, o veneno letal. Sou aquele, que rejeita o amor gratuito e desmedido. Sou o vilão, a algoz da história.

Ato nº4 – Final

Não me arrependo da decisão, era a única possível naquelas circunstâncias. Eu a amava, mas todos os dias discutia a relação com este meu coração estúpido: o que você quer da vida, seu inconsequente? Prefere se entregar a amores bandidos, a devotar afeição a quem só te quer bem?! Certamente meu próximo sentimento, é ser masoquista.

E assim, estúpidos, são quase todos os corações...

Leonardo Boaventura
Enviado por Leonardo Boaventura em 11/08/2017
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