Carta de Despedida

Certa vez li um livro que tinha o título muito intrigante, na mesma hora que vi o comprei, ele retratava de cartas aos amores que a bela jovem havia tido. Encontrei encantamento, mesmo imaginando ser loucura, quem escreve uma carta de despedida a amores passados? Depois de ler esse material descobri que eu começaria a fazer isso também, encontrei um sentido, uma louca lógica para tudo isso.

Essa é a primeira que transcrevo, ensaiei muitas frases de efeito e muitas palavras belas porém, desejo mesmo é usar as mais simples possíveis, para que talvez quando você meu “sapo encantado” ler, quer dizer se ler, e se entender que és para uma breve despedida de um amor que pretendo não permitir brotar.

Talvez nunca leia, ou mesmo descubra que ensaiei tanto para isso. Quem sabe leia e nem mesmo note os detalhes entrelinhas. Já lhe peço desculpas por entrar em sua vida, mesmo sendo brevemente, muito brevemente. Às vezes entramos na vida dos outros jamais querendo ficar, eu quis, ou não. Bom, ainda não sei ao certo. Por essa razão um ponto final vem a calhar aqui.

Não considerei os riscos de cada sentimento que foram surgindo... Quase nada, mas vi em seu sorriso que há muitos riscos. Imaginei que a distância faria todo o trabalho. Mas estava equivocada. Quando você está no comando e perde o controle da situação, o certo é recuar. Entenda, não estou recuando, estou finalizando algo que nem teve tempo de começar, e não quero que tenha.

Estar solteira é meu bem maior, meu coração seguro e protegido, longe de confusões. É engraçado como falhei. Baixei a guarda no momento errado. Para a pessoa errada. Queria muito que fosse a certa! Talvez seja porém, não estou disposta a pagar o preço. Abri as portas da gaiola e quero voar, sentir a brisa e permitir esse sentimento é uma incerteza.

Um amigo certa vez me disse para baixar a guarda. Que preciso aprender, ter novas experiências, descobrir novos amores. Tentei! Não! Na verdade não desejo permitir. Loucura? Superproteção? Talvez...
Despeço-me do sorriso aconchegante, do olhar que busca algo, aquele que fita-me e tortura-me. Despeço-me das palavras, da companhia incrível, da noite maravilhosa, daquele entardecer abençoado, cheio de gratidão. Daqueles risos, das conversas centradas, até mesmo das afinidades, especialmente delas. Alguns detalhes que talvez nem lembre, mas anotei mentalmente.

Fiz alguns escritos para poder lembrar mais, saiba, nunca apaguei. Não sei como será, mas o farei, deletarei cada detalhe, farei lentamente, quase que parando, palavra por palavra, bobeira? Talvez... Não deveria, mas como já disse em outro momento, quero fazer cada novo rabisco, cada borrão um novo traço, uma nova forma. E alguns borrões precisam surgir aqui, por isso a necessidade de apaga-las.

Quero poder fechar os olhos e não lembrar daquela paisagem tão bela, que ficou gravada em minha mente. Fotos, escritos, mensagens, seu contato... São só detalhes, e provavelmente a essa altura de sua leitura, não existiram mais. Seu contato imagino que foi o mais difícil, mas o mais necessário. Tentação é tentação. E se desejo realmente que isso seja uma despedida preciso tirar do meu poder tudo que me remete a você.

Cada sinuoso detalhe. Lágrimas se formaram em meus olhos, onde há muito tempo não havia sentimentos. Detalhe! Apenas mais um. Vou aos poucos despedindo-me da menina meiga e gentil que foi pra você, levo comigo o conceito que cada um tem de mim o que merece, então nada mais justo que me despeça dela também. Calma, dessa surgiram outras mais fortes e mais intrigantes.

Despeço-me das carícias e mais ainda dos prazeres, obrigado por cada um deles, mas agora não são mais necessários. Parece meio dramático porém, é justo! Justo com meu coração bobo que arde ao lembrar deles, deletando cada um deles terei mais espaço para novas aventuras, novos lugares, novas paisagens e mais ainda para novos olhares.

Despeço-me não por ser fraca. Entenda, precisa ser muito forte para abrir mão de algo que se deseja de todo coração, precisa ser mais forte ainda para deletar da mente aquilo que o coração já aprendeu a amar. Rápido assim? Bom, merecido não achas? Cada qual com seus pensares.

Despeço-me da moça apaixonada platônica que fui, por alguns dias, mas fui. Essa é a mais trabalhosa lembrança. Demorada para deletar, necessitou uma breve formatação também. Reset às vezes se faz necessário. Agora de alma limpa, despeço-me dessa bela e formosa, que fui só pra ti, do jardim que quase floresceu, precisei limpa-lo outra vez, mas esse é fácil.

Concluo agora, com meu último gesto de despedida. Obrigado por cada beijo, seu sabor, esse não provarei mais, só preciso lembrar que desse sabor nunca gostei e pronto, tudo arquivado. Despeço-me dos tons do seu olhar e do seu sabor com aquela umidade no olhar, mas logo na próxima leitura, provavelmente nem conhecerei mais.

Beijos delicados meu querido. Não sei se lerá, se já leu ou talvez nunca tenha ciência dessa despedida, mas foi a mais suave despedida que meu ser já realizou. A ideia foi engraçada porém, despedindo-me lentamente do que foi e o que poderia ser , foi majestoso e a partir daqui tenho arquivos novos e lixeira limpa, o que mais posso desejar ao final de minha despedida?

P.S. Despeço-me do amor que nunca permiti!
Elisa Strubb
Enviado por Elisa Strubb em 11/08/2017
Reeditado em 17/08/2017
Código do texto: T6081085
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