Confissões de uma morta viva: Lembranças...

Quarto branco, uma xícara quente e um livro a minha frente, me esforço, mas não consigo ler o titulo. Vozes inaudíveis cochicham por perto e perco os sentidos aos poucos.

Uma tarde ensolarada de outono, muitas pessoas ao redor, não as conheço, espere, um rosto, muito familiar, sorriu para mim e despertou meus melhores instintos, o peito se contraiu, o corpo estremeceu e meus lábios formaram um sorriso, feliz. muito feliz. Se aproximou e meu corpo despencou, me beijou, voltei. Podia sentir uma plenitude desconhecida, um forte sentimento que me trazia no peito um constante acelerar. Tudo era assustadoramente atraente, meu corpo não era mais carne e osso, era todo magnetismo. Pela primeira vez na vida, vi o amor, parado em minha frente, com as mãos em minha cintura, emanando um calor aconchegante.

O que se seguiu foram beijos, conversas daquelas filosóficas e outras com muitas risadas, também teve o doce silêncio. Amor chegou com tudo o que tinha direito, tardes chuvosas, manhãs ensolaradas de inverno, apenas um cobertor e os corpos se aqueciam mais do que um corpo humano pode suportar. Tudo era incrível e o futuro não importava, "were we against the world". E quando as brigas se intensificavam, o sentimento também, as idealizações se perderam dando espaço para a realidade, na qual pertencíamos um ao outro.

O quarto branco reaparece, as vozes estão audíveis e agora posso identificar o que dizem, estão decidindo sobre os aparelhos que mantem meu coração bombeando sangue para o resto do corpo, aparentemente não tenho mais energias para argumentar e decidir sobre minha própria vida. A realidade do presente chegou e me deixou suspirando sobre aquele passado maravilhoso, no qual vivia a inquietude do amor. Meu amor, que me deixou alguns anos antes de eu vir para este quarto.

E assim sigo, uma moribunda, a morte cada minuto mais próxima, sinto seu suspiro gelado em minha nuca, espero, enquanto restarem minhas lembranças, espero. Até breve, leitores.