MONEY MONEY MONEY MONEY, MONEY

Quando o tema de abertura do programa de TV “O Aprendiz” começava a soar, eu me perguntava porque o termo ‘money’ era repetido inúmeras vezes na melodia em um curto intervalo de tempo. Embora na época, eu não descartasse a teoria de valorização da cultura exterior em detrimento da cultura brasileira, pressuponha que esse não era o real motivo. Talvez pelo fato de o aprendiz naquele momento ser eu, não percebia que, na verdade, o dinheiro não movia apenas a canção, mas também as relações humanas.

Há muito tempo sabemos que o dinheiro pode comprar muitas coisas. Vivemos em um mundo onde tudo o que queremos está a nosso alcance nas gôndolas das lojas ou nas vitrines virtuais, importando apenas que tenhamos poder aquisitivo. Se em outros períodos históricos, cada produto ou serviço já possuía seu preço e a moeda de troca nem sempre era propriamente uma moeda, mas um escravo por exemplo, não é surpresa alguma considerar que as pessoas são bens negociáveis. A questão então muda para: quanto você vale?

É verdade, tem gente se vendendo por pouco. Mas o valor que cada um se dá ou que permite que os outros lhe deem não tem relação direta com as moedas negociadas no mercado de câmbio. Elas talvez sejam apenas o meio de permuta acordado como sendo o mais eficaz para ambas as partes no negócio. Porém, os valores envolvidos nessas transações podem passar a ser bastante levianos para aqueles que enxergam o dinheiro apenas como um meio de sobrevivência.

Quantos não são os exemplos conhecidos - e até mesmo os que ainda não tomamos conhecimento - de pessoas dispostas a eclodirem de qualquer forma nos meios de comunicação, a fim de alcançarem certo prestígio social, suposto sucesso e como consequência, bons vinténs? Seja a nudez masculina e feminina vendida nas bancas de jornais pela bagatela de alguns reais, sejam usuários de redes sociais em busca de seguidores desconhecidos e automatização de curtidas. Por pouco, você está apto a comprá-los.

Se o preço, porém, for o silêncio de uma figura influente no meio político, é importante que você tenha ciência de que o valor pode sofrer uma alteração significativa. Não devemos fazer uso de generalizações quanto ao que se refere às movimentações políticas, somente devido à um histórico recorrente de casos de corrupção, porque isso demonstra um despreparo substancial para discutir sobre esse assunto. Mas sabemos que algumas alianças, promessas e votos estão abertos a negociação.

Fora do meio corporativo, há quem estabeleça uma relação de amizade pautada em interesses financeiros. É, em minha opinião, a partir desse ponto que o ser humano deve ser capaz de discernir quanto custa manter esse tipo de contato. É o preço recebido ou pago por demasiados agrados e massagem ao nosso ego ou de outrem uma moeda de troca justa e aceitável?

Nesse sentido, e também no âmbito do envolvimento amoroso, é preciso pesar as perdas e danos. O real significado da palavra relação pressupõe um relacionamento entre no mínimo duas pessoas ordenado por uma série de acordos que vão sendo construídos e desconstruídos com o passar dos dias e dos acontecimentos. Quanto mais alinhado ele se torna, menor é a probabilidade de surgirem propostas indecentes. Estaria a solidez construída pela verdade à venda no poste em alguma publicidade ilegal de amarração amorosa?

O que de fato sei é que minha família não está à venda. Por mais que o sistema capitalista faça questão de desprezar os 364 dias do ano em que convivemos e apoiamos nossos entes familiares, fazendo-nos lembrar de seus papeis de pais, mães, namorados e crianças apenas em datas comerciais, cabe a nós não sucumbir a essas provocações. Se as novelas valorizam um indivíduo que mente para a mulher amada em troca de uma mala cheia de dólares, cabe a nós mostrar que trata-se de mera ficção.

Os cientistas advertem: a forma com a qual você vê o dinheiro firma-se até os sete anos de idade. Estou aqui para dizer que sou um caso a ser estudado. Em plenos vinte e nove anos, ainda não tomei uma posição concreta sobre o assunto: dinheiro, bem ou mal necessário? Enquanto gasto o que não possuo e não economizo o que tenho, vou mesmo é poupando o amor que me resta, pois é através dele que pretendo me tornar milionário.