Metal contra as nuvens

Minha avó costumava dizer que rock era coisa do demônio. E eu cá comigo pensava: que exagero! Hoje vejo que ela tinha razão. O heavy metal e todas as suas variantes sem dúvida alguma é uma invenção tipicamente demoníaca.

Quando ouço uma música dessa natureza, meu cérebro sente como se estivesse em uma situação de iminente perigo. Seus mecanismos de alerta e defesa que me preparam para a fuga ou luta são imediatamente acionados como um relâmpago rasgando o céu de norte a sul em noite de tormenta. A mente e o corpo saem de sintonia: a mente não reconhece a situação de perigo, mas o corpo sente-se irremediavelmente ameaçado. Os neurônios se agitam de tal forma que sinto como se o cérebro fosse um pássaro selvagem batendo compulsivamente contra a caixa craniana, na tentativa de libertar-se da gaiola que o aprisiona para ganhar a quietude azul cobalto do céu.

Automaticamente o organismo joga no sangue uma carga de adrenalina com força suficiente pra esfacelar o coração e provocar uma parada cardíaca. Respiro fundo, conto até cem umas dez vezes, penso no paraíso de Adão e Eva descrito na Bíblia; nos girassóis de Van Gogh; nas benditas Sinfonias de Bethoven; Bossa Nova; nas ilhas caribenhas que ainda não conheço e seus luais em noite de lua cheia, mesmo assim, o coração acelera, a boca seca, o corpo treme, as mãos suam e, a batida medonha da guitarra é a única coisa que meu pensamento retém.

Sinto como se eu tivesse sido tomada por uma força maligna avassaladora, e esta estivesse me arrastando para ‘os quintos do inferno' ao som rasgado da maldita guitarra. O peso medonho do metal faz cada músculo do meu corpo tremer: de ódio claro. Seja o gutural ou drive vocal tipicamente agressivos rasgam minha emoção em milhões de pedacinhos. Nessa hora sinto-me na porta do inferno, com os olho fixos nos olhos vermelhos do demônio.

Num acesso de fúria, tomo de suas mãos a maldita guitarra e a estraçalho no chão sob aplausos de milhares de demônios, todos apaixonados por heavy metal. Um som gutural, genuinamente “metálico”, repleto de saliva arsênica sai da minha boca como o trovão que produziu “a rosa de Hiroshima” espalhando nessa atmosfera demoníaca as palavras mais cobiçados pelos que já tiveram os tímpanos estourados por esse som tenebroso: Fuck you! Fuck you! Fuck you!

* Somente pra que fique registrado nos Anais do Tempo:.eu odeio heavy metal!

Edna Frigato
Enviado por Edna Frigato em 27/08/2017
Reeditado em 27/08/2017
Código do texto: T6096821
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