OLHA A MINHA CARA DE FELICIDADE

OLHA A MINHA CARA DE FELICIDADE

Quem deu o nome de felicidade ao sentimento ou estado de consciência plenamente satisfeita e contente, com certeza foi um infeliz. Não me entendam mal, não quero com isso menosprezá-lo dizendo que é um fracassado por tê-lo feito, apenas de que talvez pelas circunstâncias desfavoráveis de infortúnio e tristeza pelas quais passou, seja realmente o único a descrevê-la como ela é.

Isso porque o pobre infeliz não a vê no resgate do pagamento sequencial de doze parcelas anuais de um carnê ou em sorrisos forçados nos registros infindáveis dos segundos passageiros vividos em companhia de outras pessoas em eventos marcantes. O infeliz é considerado como o único capaz de descrever a felicidade, porque a aprendeu. Aprendeu a escolher os prazeres, os amigos e os valores que devem ser estabelecidos em sua vida.

Depois de três anos inteiros postergando a decisão de adquirir uma experiência permanente no exterior, eis que coloquei à prova tudo aquilo de que gostava em busca de mais felicidade. Segundo os cientistas, situações complicadas, incertas e até mesmo desgastantes são fundamentais para aumentar a nossa satisfação. Não sou cientista, mas posso afirmar que através de minha experiência extra laboratorial cheguei a conclusão de que certos estudos não se aplicam a todos os tipos de cobaias.

Em alguns momentos, algo é certo: a melhor maneira de aumentar o nosso grau de satisfação na vida é simplesmente fazendo o que nos faz bem. Mesmo quando os nossos pais insistem em dizer que algum estudo científico comprova que apenas 1% da população se dedica integralmente em vida ao que mais gosta quanto à profissão. E claro, tem sucesso. Por isso, se quisermos ser felizes, segundos eles, devemos ignorar os insights e questionamentos sobre nosso desempenho em busca dela.

Se por um lado, ainda nos desgastamos tentando convencê-los de que a felicidade que almejamos só é possível ultrapassando os limites da nossa zona de conforto, por outro lado celebramos o sucesso alheio. Sim, isso também me faz feliz. Outro dia enquanto recebia a notícia de que uma de minhas amigas mais estimadas celebrava a conquista de um carro automático, o inicio de suas aulas de direção e a busca de mais independência pessoal, eu vibrava interiormente.

É cada vez mais insólito nos depararmos com pessoas que são capazes de compartilhar alegria e realizações sem partilhar de sentimentos de cobiça e inveja. Muitos são capazes de oferecer condolências à amigos enfermos ou tristes com alguma situação por em dado momento se encontrarem em situações mais vantajosas. Mas nas mesmas proporções, também oferecem mimos valiosos à amigos que acabam de anunciar ascensão profissional afluente, casamento privativo nas ilhas gregas ou ventura na adivinhação dos números corretos na loteria?

Também é importante ver o outro lado. Falemos dela, a famosa e boa curtição. Depois que o frenesi da promoção cessa, a festa de casamento luxuosa se encerra e a conquista do prêmio milionário não acompanha uma boa gestão dos recursos, quais sentimentos se manifestam? Vazio, nostalgia, sofrimento. Pessoas felizes sabem se permitir certas indulgências momentâneas que parecem ser gratificantes em busca daquilo que realmente almejam na vida.

Escrevendo, parece fácil. Se fosse, a receita estaria em alguma embalagem presente nas gondolas do supermercado descrevendo que para provar de felicidade instantânea, bastaria apenas duas colheres de sopa cheias de pó mágico da alegria misturados a 200ml de água fria ou quente. Mas é justamente esse ato de tentar compreender o nosso mundo complexo que nos desvia da nossa felicidade. Aquela, a real.

Nesse sentido, agradeço imensamente à Martha Medeiros que com o seu livro “Feliz por nada” me proporcionou a reflexão diária de que a verdadeira felicidade não tem motivo, nem sequer qualquer explicação. Felicidade é questão de ser. E ponto. Por isso, me esforço em não ceder ao carnaval que tem fim, como canta Camelo, com a intenção de chorar, sorrir e dançar na chuva, quando ela vier, tal qual Jeneci.