As Anas Antissociais

Todos estavam lá, sentados, rindo, brincando, divertidos, menos ela, como sempre. Ana estava sentada num canto, isolada, séria, parecendo responsável e preocupada com o serviço. Tudo isto, porém, escondia tristeza e solidão sentidas a vida inteira.

Antes deles, antes de conhecê-los, tinha sido fácil lidar com tudo aquilo. Isolamento social (ou auto isolamento, tanto fazia), tristeza contínua e solidão tinham sido, até ali, realidades fáceis de lidar. Só conhecia aquilo mesmo, então, não doía.

Sua entrada naquele grupo fora interessante, sempre quieta, sem falar com ninguém, fazia o maio esforço para não ser notada ou cumprimentada porque era sempre uma situação embaraçosa. Não tinha aprendido a se socializar, mas era bastante inteligente para o serviço.

Tivera que aprender a se comunicar por telefone, para resolver as pendências de atividades. Depois, aos poucos, se forçara à comunicação constantes com outros à sua volta, tudo em nome da execução de um serviço de qualidade. Aos poucos, fora aprendendo a interagir com as mãos estendidas em sua direção.

Aprendeu a conviver, a ter amigos, a não ser sozinha, a rir junto. Estava, finalmente, inserida, se socializando, quem diria. Não que fosse habilidosa, mas as pessoas eram atenciosas, e porque não aceitar atenção e companhia? Depois que provou do gostinho de estar junto, não queria mais estar sozinha, já não amava mais a solidão.

Ana aprendeu a socializar com sua família, passou a conviver bem melhor com eles. Agora já era incluída nas conversas, tanto em casa quanto no trabalho. Mas o que a Ana não sabia, em sua experiência de reclusão social, era lidar com o fim de amizades sociais. Em sua ingenuidade, Ana romantizara sua primeira experiência de socialização e, na mudança de ciclos e fases, natural da vida, não soubera oferecer companhia e atenção para construir vínculos que durassem além dos ciclos (apenas curtia a o que lhe ofereciam). Também não soubera desapegar, se magoara e ficara confusa.

Como autêntica antissocial, ao encontrar um porto segura para convivência, tornara aquele o seu chão. Pobre Ana! Ainda não sabia que, nos relacionamentos, convivência comunicativa (por mera regra social) é bem diferente dos laços de amizade. Cometera o equívoco de confundir convivência social com amizade. Mas aprendera, da pior forma (com frustração).

Hoje, Ana sente-se abençoada por tantas dores e desencontros, porque ganhara, disso tudo, o maior dos presentes, a capacidade de interagir com outros, sem medo, sem fobia, sem mãos trêmulas e suando, sem dor de barriga repentina, sem fio na espinha, sem travar, se achar todos à sua volta intimidantes para um simples ‘Bom dia’.

Hoje, Ana sabe entrar e sair do mundo, para conviver quando a agradar e se isolar quando lhe convier.

Marta Almeida: 07/08 à 04/09/2017