OS SENTIDOS DA PATERNIDADE

"Pater" é uma palavra polissêmica, que origina diferentes palavras derivadas da sua semântica, como paternalismo, paternidade, paternal, patrimônio e assim por diante. É de origem greco-romana na acepção que a entendemos, mas não pesquisei, aqui, os sentidos da palavra "pai", nas mais diversas línguas e culturas - que poderia nos dar uma compreensão diferente da paternidade.

Na mitologia judáico-cristã, que é a nossa, define-se Deus como Pai, dentre as várias definições do que é um "pater" - que é o que contém o sêmen, o que é seminal: o dono do DNA, ou aquele que dá origem a um indivíduo. Deus que já foi Zeus, que já foi Javé - enfim... Jesus o define como Pai, numa tentativa de ajuste ao seminal, ao protetor. Um Pai que origina tudo sem mãe, sem uma deusa, na cultura judaica. Não se fala em deusa, no sentido feminino do termo.

A palavra "pater" dá origem a palavra patrimônio, que denota àquilo que é típico do pai: os bens materiais (como "mater" dá origem a palavra matrimônio, que denota àquilo que é típico da mãe: o marido e os filhos).

Porém, antropologicamente falando, o pai só veio a ser conhecido da passagem da Pré-história em direção à Civilização, com a formação da família monogâmica e do sistema de parentesco patrilinear. Antes disso, o pai era desconhecido, por causa de uma promiscuidade primitiva, na qual um filho somente sabia quem era a sua mãe dentro de uma horda em peregrinação - podendo se perder dela na juventude, por causa de guerras.

Antes disso, conforme atestamos em Lewis Morgan, citado por Friedrich Engels na obra "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", os sistemas de parentesco, tal qual conhecemos hoje, eram diversos, assim como o sistema de família, durante a evolução linear da selvageria, barbárie e civilização.

A importância do pai está ligada ao processo de sedentarização na civilização, que é o momento de formação do excedente agrícola e da necessidade da mão-de-obra para produzí-lo, assim como guardá-lo dos inimigos. Principalmente ao processo de demarcação das terras que exigiam um grupo coeso, fecundo e forte. Estas demarcações aconteciam pela intimidação nas guerras, que passavam a ser mais a função masculina. Não que as mulheres não fizessem guerras no começo da civilização agrícola, mas, num dado momento, com o surgimento da agricultura, as mulheres ficaram no "domus", um espaço doméstico, no qual nutriam a prole e plantavam. Daí a palavra patrimônio definir a defesa da terra e a palavra matrimônio definir os laços de família.

A essência do "pater" é a proteção das terras da família, não significa acalentar os filhos. Não seria necessariamente o amor pela prole, como seria o caso da maternidade. Daí as palavras acabarem necessitando de reinterpretação. Atualmente, o "pater" não é mais o protetor das terras.

Ficou um vácuo na definição, no sentido hodierno.

Tanto é que a noção de proletariado é mais ampla e está mais no contexto de sociedade industriais. Tá ligada àquele que precisa alimentar a prole com meios de vida ofertados na forma de mercadorias. Que tem prole para dar de comer com salário ganho no processo de produção do capital.

Como as mulheres também são proletárias, a palavra perde sua conotação de paternidade. Pode ser tanto o pater como o mater.

O capitalismo é indiferente a questão do proletário ser homem ou mulher, até preferindo muitas das vezes a mulher pelo fato de ser mão-de-obra mais disciplinada e barata. Por isso mesmo que a velha ideia de patrimônio e matrimônio estarem ligadas às civilizações agrícolas, não às sociedade industriais.

A conclusão é que nas sociedade industriais não há nenhum sentido na palavra paterno e materno, pois pater e mater são noções de sociedades agrárias.Sendo assim, a palavra prole e proletário conjugam-se mais.

FONTE:

F. ENGELS. A ORIGEM DA FAMÍLIA, DA PROPRIEDADE PRIVADA E DO ESTADO...

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 04/09/2017
Reeditado em 05/04/2020
Código do texto: T6104687
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